Post by andrewschaefer on May 24, 2021 19:19:27 GMT -5
90
É difícil de se escrever uma crítica para o álbum de Babushka, com certeza. Em dez faixas com uma sonoridade alternativa muito interessante e única, com influências do rock e do acústico, a artista aborda sua confusão mental sobre uma relação com outra pessoa e como isso a afetou. Mas é mais que isso. As primeiras músicas são sobre como ela e tóxica, malvada e ruim (ou inexperiente) em relacionamentos. Então no meio do disco, ela fala que a alguém a quebrou. Por fim, ela começa a compreender para as últimas faixas como não poderia culpar ninguém, entendendo que seus problemas pessoais atrapalharam a vivência com outra pessoa. Entretanto, as letras constantemente afirmam que "tudo está na minha cabeça", o que gera um clássico problema de narrativas em primeira pessoa, em que vemos a situação pelo ponto de vista de um determinado personagem, então não podemos garantir a sua completa precisão. Chega um ponto em que realmente é difícil compreender a situação pela qual Babushka estava passando pois não sabemos mais o que estava em sua cabeça ou não, quem foi errado na história ou não, simplesmente embarcamos numa jornada pela mente da artista e pelos seus demônios mais profundos para entendê-la. Tendo isso em vista, "Last Summer Was Awful" se torna um emaranhado de pensamentos e sentimentos confusos sobre algum relacionamento que aconteceu no verão passado. Tudo isso poderia configurar como um ponto negativo se não tornasse o álbum verdadeiramente genial com uma quebra de expectativa super interessante e com uma narrativa que termina com um certo amadurecimento mas ainda sem um final feliz. Destaque para as músicas Beautiful Pain e Made of Rage que sem dúvidas são as melhores do disco e as que melhor transmitem o que a alma da cantora e produtora estava sentindo e passando. No mais, o álbum consegue alcançar critérios de coesão e sem dúvidas se consagra como um dos mais interessantes desse ano. Entretanto, é bom lembrar que lapidar suas composições para entrar um melhor resultado final é sempre válido. Babushka correu o risco de tornar o álbum extremamente confuso e potencialmente chato se não tivesse mudado o foco narrativo para o que estava acontecendo na sua cabeça, e não fora dela.
80
Com Last Summer Was Awful, Babushka já chega na indústria mostrando que ela é uma artista a ser notada e prova várias coisas, mas também deixa algumas a provar. A voracidade e a confessionalidade nas letras que ela escreve são únicas e extremamente marcantes, o que mostra que ela tem coragem de fazer de sua arte exatamente o que ela quer dizer, não importa o que o público pense disso ou dela, não importa a que dimensão do ridículo as pessoas achem que ela se expôs e isso é o que faz dela uma artista tão consagrada logo em seu debut: sua determinação pela verdade e seu destemor. A produção do álbum também é consistente e Babushka consegue dar seu nome a um álbum assinado por si mesma de uma maneira inovadora mesmo que já tenha feito isso para nomes da música alternativa como Plastique Condessa e Catherine Valentinova, e Dark Bae também consegue mostrar um pouco de sua identidade nele, o que mostra a importância com que a obra foi manuseada e isso é algo a ser celebrado. Contudo, alguns versos escritos pela artista não nos entregam tanta musicalidade ou mostram um bom desempenho fonético, como o verso "Anyone sees, you're strong, you're your own anchor", que, apesar de ser uma ótima figura de linguagem e apresentar alto potencial poético, ainda sim, não soa muito bem. Apesar dos ínfimos apesares, este álbum é um ótimo começo e Babushka merece uma grande salva de palmas por ele.
78
A maioria dos produtores musicais passam suas vidas se dedicando a criar grandes hits para artistas conhecidos sobre as sombras do caderno e de aparelho de mixagem, mas há alguns que conseguem ter talento o suficiente para sair do anonimato iminente e achar seu próprio caminho musical com seu próprio nome. Este é o caso de Babushka, antes um nome visiviel em fichas técnicas de Catherine Valentinova e Plastique Condessa, agora se encontra na música alternativa em seu primeiro álbum Last Summer Was Awful.
O álbum começa com a autocritica Toxic And Mean, uma música que reflete sobre ações "tóxicas e más" do eu lírico ao som de batidas etéreas e sendo seguidas por Dark Summer e Anchor onde ainda estamos refletindo sobre tais dolorosas ações e vidas que se lamentam pelo rumo social que sua vida levou. Os sentimentos que Babushka coloca em suas composições, tão reais e como ela mesmo diz na faixa oito feitas por ódio. As palavras, expressões e até mesmo frases que a cantora coloca para falar sobre sua tristeza tão comum em seus relacionamentos é muito interessante e funciona bem com essa produção não convencional que o álbum desenvolve em dez faixas. Porém apesar de ser um álbum muito bem trabalhado na parte lírica, me soa como se algumas entradas musicais são muito bruscas em sua produção, como por exemplo na ótima Tunnel uma deprimente faixa rock com vocais baixos e acordes lentos que soa extremamente deslocada no meio da barulhenta Beautiful Pain e da industrial Who's The Hangman, onde essas alternâncias no meio do álbum acabam soando mais como uma falta de coesão e podem acabar atrapalhando um pouco das emoções trazidas no álbum onde o rock industrial é de vez cortado para a triste e poética, acompanhada no piano, The Blame que serve como um excelente acompanhado para o grande desfecho que é Trauma. A última faixa é mais ou menos uma balada, com pianos, vocais corridos e diversos em suas estrofes onde Babushka reflete sobre sua jornada emocional no último verão classifica suas dores e inseguranças como um trauma, ainda sim não deixando-a cair por ser tão narcisista para perder uma luta.
Last Summer Was Awful é turbulento, com uma sonoridade surpreendente mas bagunçada em algumas partes, mas que encanta em mover de forma aguda suas relações frustradas e defeitos em composições tão lúdicas e tristes, que fazem o ouvinte reconhecer um pouco de si em algum trecho. De facto, um grande inicio para uma futura grande artista que está surgindo e uma nova promessa da música indie.