Post by andrewschaefer on Dec 3, 2020 8:04:51 GMT -5
Após o intervalo comercial do programa de televisão britânico The Graham Norton Show, a artista Agatha Melina continuou comentando sobre as faixas de seu terceiro álbum de estúdio, o Forget Me Not, agora falando sobre a segunda metade. Nessa parte da entrevista, Agatha divulgou a música que está promovendo atualmente, Titanium Walls, o duo com o cantor Stefan Lancaster e a faixa Legacy do disco.
Graham: Estamos de volta, pessoal! Agatha, preparada para dar prosseguimento às explicações acerca do Forget Me Not?
Agatha: Sim! Estamos indo para a segunda metade agora, estou mesmo animada para continuar explicando sobre tudo isso, mas tem mais uma coisinha que eu gostaria de salientar antes para que fique mais fácil a contextualização dessas faixas restantes. Eu deveria ter falado sobre isso em Blue Heart, mas o tempo já estava acabando, então deixei para falar agora mesmo.
Graham: E o que seria essa coisa que é tão importante assim?
Agatha: O Forget Me Not é um álbum extremamente visual, assim como a maioria das minhas músicas, mas este tem uma locação em específico, um cenário para todas as faixas, o que faz com que o álbum até se assemelhe a um filme. Isso é porque durante esse ano, eu utilizei bastante da meditação. Quando eu medito, eu geralmente me imagino em uma floresta e lá eu vou andando e explorando, relacionando as coisas que eu encontro com a minha vida, e isso me ajuda muito a compreender muitas coisas e lidar com elas. É quase como se fosse um planeta criado pelo meu subconsciente e eu sempre o visito. Eu já desbravei muito dessa floresta, então só fazendo clipes para todas as músicas do Forget Me Not eu conseguiria mostrar todos os locais dela. Para vocês terem uma ideia, no rio de Blue Heart, tem um reino subaquático abandonado que estaria relacionado a Dark Stained, a sétima faixa do álbum a qual vou comentar daqui a pouco. Mas eu estou trazendo somente os lugares mais importantes e aqueles que mais tiveram impacto para mim e que acredito que terão mais para o público. Eu posso dizer que essa floresta é bem importante pois me fez enxergar muitas coisas de formas diferentes, quando eu me sentia triste ou irritada, eu passava um tempo lá e logo me sentia melhor após ver algumas coisas. Talvez algum dia eu mostre todo esse local para vocês, confesso que vai ser muito interessante fazer isso e aponte onde cada faixa se encontra, Flowers, Rotten Tree, Blue Heart, etc.
Graham: Você já havia mencionado essa floresta enquanto divulgava o clipe de Blue Heart, mas ouvir agora com mais detalhes é realmente mais interessante.
Agatha: Então, como eu disse, vamos para a sétima faixa do Forget Me Not: Dark Stained. Essa música é sobre reflexão e introspecção, uma música que eu escrevi após muito pensar em várias atitudes que tomei na minha vida e principalmente no decorrer deste ano. Eu tive inspiração para escrevê-la enquanto conversava com uma pessoa no Twitter e eu fiz a associação de que a tristeza era um espelho sujo, mas algumas pessoas escolhiam ver as manchas e outras, o reflexo. Quando se você o reflexo, você pode descobrir o que tem de errado e tentar mudar, se focar somente nas manchas, nunca terá esse processo de reflexão. Dark Stained vem falar exatamente sobre como a tristeza me fez perceber alguns dos meus erros ao me olhar no espelho e como a partir daí eu pude mudar quem era. Reconhecer seus erros é muito difícil e muito doloroso, você precisa de muita maturidade pra fazer isso. Eu lembro que uma noite eu percebi que havia cometido um erro muito grave e eu me senti péssima, fiquei chorando a madrugada toda depois de ter me visto nesse espelho sujo, eu sei bem como é essa sensação, mas o que importa não é o que fizemos ou quem fomos desde que pretendamos mudar isso, foi algo que também descobri esse ano. Dark Stained é uma música bem acústica e um pouco voltada ao folk com uma atmosfera mais pesada e obscura, como eu pretendia que fosse. A parte da floresta que está relacionada com Dark Stained é o rio, lá é onde vejo meu reflexo. Esse rio também esteve presente no clipe de Blue Heart, mas ali estava mais contextualizado como limpeza. Bem, acredito que tenha as duas funções, haha.
Graham: É muito importante isso que vocÊ fez, Agatha, ter maturidade o suficiente para encararmos o nosso reflexo e descobrirmos nossos erros. Muitas vezes é difícil apontarmos o que há de errado em nós mesmos e esse tempo de reflexão é ideal.
Agatha: Exatamente! Por isso, já trago a próxima faixa, Bleed, que é a oitava do material. Ela fala justamente sobre se colocar nesse processo de reflexão através do auto isolamento. Bleed foi uma das primeiras músicas que escrevi para este álbum e eu a quase descartei, mas depois de reescrevê-la, considerei importantíssimo deixar, pois introduzia o tema da vida para eu reintroduzir o tema da morte desde Flowers. O sangue muitas vezes é associado com uma coisa negativa, e realmente é, haha, mas também podemos interpretá-lo como vida. Se há sangue, há vida. Inclusive essa é uma das razões dos desenhos na parede da caverna no clipe de Blue Heart terem sido feitos com sangue, representam vida e têm um enorme poder. Bleed conta que é melhor se sentir alguma coisa do que não sentir nada, pois pelo menos você sabe que está vivo. É uma música sobre valorização à vida, apesar de ser extremamente triste. Eu passei por muitas fases difíceis há algum tempo em que eu tentava reprimir o que sentia, mas felizmente como vocês já sabem, eu consegui sair disso em Blue Heart. Bleed retrata justamente o pós deixar de reprimir, as consequências disso. Foram muitos sentimentos e emoções com os quais eu não consegui lidar muito bem e acabei me auto isolando como digo na música, mas isso só serviu para que eu pudesse pensar ainda mais em todas as coisas e refletir ainda mais sobre a vida e a morte. Eu acho que esse tempo de reflexão foi ideal para que eu concluísse o Forget Me Not da melhor forma, pois sem ele eu jamais teria percebido algumas coisas, apesar de não ter ajudado muito a lidar com o que eu estava sentindo, afinal de contas, se isolar nunca é bom.
Graham: Acho que todos nós precisamos de um tempo sozinhos de vez em quando para reorganizar as ideias em nossa mente, mas há situações e situações. O seu isolamento pode não ter te ajudado com o que você queria que ajudasse, mas com certeza te ajudou em outro sentido, a ver as coisas de uma forma diferente.
Agatha: Sim, você está entendendo a premissa do álbum. A partir dessa nona faixa, eu acredito que entramos em uma fase diferente do álbum, que deixa de ser tão melancólica. Storm Above é sobre ver essa tempestade acima de você, mas saber que ela é passageira, afinal de contas, depois de toda tempestade, sempre há um arco-íris, isso chega a ser clichê, mas é verdade. Às vezes quando estamos no meio da tempestade, não conseguimos pensar nisso, mas é ideal que pensemos, afinal de contas, só precisamos entender que depois de passarmos por aquilo, por mais difícil que seja, ficaremos bem. Os tempos voltarão a sorrir para nós. Acredito que é uma das faixas mais poderosas do disco nesse sentido, pois ela fala tudo o que eu aprendi nesse tempo de isolamento e introspecção, como por exemplo, aprendi sobre amor próprio, que vai muito além de autoestima, tem a ver com autopreservação e lá no fundo da nossa alma, na nossa ancestralidade, conforme eu descobri na floresta, tem a ver com instinto de sobrevivência. E essa é a arma mais poderosa para enfrentarmos as coisas no mundo. Posso dizer que talvez eu tenha saído um pouco da caixa aqui por fazer uma música mais pop, eu honestamente estava considerando fazer do Forget Me Not um álbum pop há algum tempo, mas eu mudei de ideia pois queria algo mais calmo o folk e muitas músicas acústicas, afinal de contas, para um álbum todo baseado no azul, não podia ter uma sonoridade diferente do que uma calma, já que o azul é a cor da tranquilidade e serenidade, haha.
Graham: Não havia percebido esse detalhe sobre a sonoridade, muito interessante! Faz total sentido agora.
Agatha: Bem, a décima faixa é Pines. Eu gosto bastante dela, apesar de ter total ciência de que não é a melhor do Forget Me Not. Pines é sobre crescer e amadurecer, sendo relacionável ainda com o aprendizado a partir dos erros lá em Dark Stained. Bem, aqui eu faço uma comparação de mim mesma com um pinheiro que pode crescer e chegar a alturas absurdas, tudo o que eu preciso fazer é ser paciente. Na verdade, isso serve para todos nós. Constantemente estamos vendo pessoas amadurecendo mais rápido, chegando a alturas maiores do que nós e ficamos nos comparando a elas, mas também há pessoas que crescem mais devagar e não tem absolutamente nada de errado nisso, cada um tem seu tempo e passa por coisas diferentes, não dá pra esperar que todos tenhamos a mesma evolução com o passar dos anos, é simplesmente irreal pensar isso. Mas Pines não é somente sobre isso, tem também um caráter de resistência, mostra como somos fortes apesar de tanta coisa que passamos, mas que tudo isso nos ajuda a crescer. Uma das interpretações paralelas para essa letra é a de que um pinheiro não floresce, e o florescimento está diretamente relacionado à capacidade reprodutiva das plantas, óbvio que os pinheiros têm outras formas de se reproduzir, mas vamos considerar que não para essa interpretação. Talvez eu tenha feito essa relação pensando também nisso, sobre nunca encontrar alguém na vida. E não, eu realmente não inventei isso agora. Quem viu o lyric video de Blue Heart sabe que tem uma cena em que o passarinho tenta se aproximar de outros, mas não o querem por perto, e há vários casais de passarinhos e ele continua sozinho. Eu disse que esse lyric video ia resumir o álbum e essa foi uma das cenas que eu pensei já lembrando desse detalhe em Pines.
Graham: Oh, realmente é uma das possíveis interpretações, sim. Faz sentido, mas vou ter que discordar desse seu sentimento de solidão.
Agatha: Haha, veremos. Ok, estamos chegando na reta final. A décima primeira faixa, The Ghost and The Cliff. Eu escrevi essa música há alguns anos, ela se chamava On The Edge Of The Cliff, mas eu reescrevi ela inteiramente e ficou completamente diferente do que era, então eu considero duas músicas diferentes. O nome original era A Ghost Pushes Me Down The Cliff, mas enquanto fazíamos a arte para a contra-capa do álbum onde colocaríamos os nomes das faixas, nos deparamos com o problema de que o nome era grande demias para caber e ficar com uma estética bacana, então eu tive que repensar em um título para essa faixa, acabei gostando de The Ghost and The Cliff, bem mais simples, intimista e misteriosa, mas ainda fala do conteúdo da letra. É uma relação um pouco difícil de se fazer, eu acredito, com um fantasma e um penhasco, mas eu explico. O penhasco representa a vida, ou melhor, o fim dela, um ponto em que estamos tão próximos da borda que apenas mais um passo seria o suficiente para nos levar para a morte; o fantasma representa o mistério, o fato de que não sabemos quando isso vai acontecer. São conceitos bastante abstratos, mas uma vez que se entende a relação, fica fácil de compreender o que a música quer passar. The Ghost and The Cliff é sobre a fragilidade da vida, sobre como estamos aqui, mas daqui a alguns minutos podemos não estar mais. Estamos vivendo constantemente na borda, só esperando o fantasma nos empurrar, como não o vemos, não sabemos quando acontecerá e isso assusta, é normal. Para essa faixa, eu estava bem triste, me culpando por muitas coisas e refletindo tudo o que eu já tinha feito durante toda a minha vida, me colocando como uma grande vilã como se eu merecesse ser empurrada logo daquele penhasco, eu estava praticamente implorando para o fantasma vir, se vocês viram a letra devem ter percebido isso. Ali era um sentimento de culpa, medo e raiva expressados em muita tristeza, é o que pensar sobre a morte faz conosco. Eu já vivenciei isso vezes o suficiente para estar sempre pensando que eu posso estar na borda do penhasco e o fantasma cada vez mais próximo, já com as mãos estendidas para minhas costas. Essa música eu mesma produzi, ela é quase inteiramente com piano, o que a deixa ainda mais pessoal e conectada a mim. Muitas pessoas me disseram que é a melhor faixa do álbum e confesso que eu não achava, mas quanto mais eu penso nela, mais concordo. Um amigo chegou a me contar que chorou enquanto ouvia e eu me senti tão... bem, eu acho. Fiquei feliz de ter arrancado lágrimas de alguém assim como arranquei de mim, fiquei com uma sensação de dever cumprido, era exatamente isso que eu queria fazer, passar a sensação que eu tive.
Graham: Sou suspeito porque minhas músicas preferidas deste disco são os singles Blue Heart e Titanium Walls, mas devo concordar que The Ghost and The Cliff é linda, não cheguei a chorar, mas deu vontade, sim.
Agatha: Obrigada, de verdade. E chegamos à décima segunda e última faixa do álbum, uma pena, estava tão bom conversar aqui, haha. Legacy foi por algum tempo a minha faixa preferida, mas como eu disse, agora acho que não tenho mais tanta certeza disso. Essa música encontra um significado para vida após tanta reflexão na beira do penhasco. Ao meu ver, nós vivemos por um legado, queremos deixar registrado que passamos por aqui. E quando eu digo legado, não quero dizer algo grande, um feito científico gigante que vai nos lembrar por gerações, mas simplesmente deixar uma lembrança no coração de alguém que nos ama já vai ser um legado enorme dependendo de como você vê as coisas. Seu legado pode ser algo que você escreveu, algo que você disse... Qualquer coisa para que não nos esqueçam, como o título do álbum fala. Aqui eu falo muito sobre a morte, sobre como saber que tudo acaba é um alívio. Afinal, se não existisse a morte, nunca daríamos valor à vida, então ela é muito importante para que valorizemos essa coisa tão especial que temos o privilégio de ter. Legacy explora todo o processo de morte, enterro, decomposição do corpo, memórias deixadas para trás e avançando no tempo, até a destruição do universo, mostrando como apesar de tudo, ainda somos tão pequenos. Mas o importante é que se deixamos alguma coisa, se deixamos o nosso legado, já terá valido e muito. Óbvio que essa não é uma verdade universal, é o sentido que eu encontrei para a vida, é para isso que eu quero viver, eu quero que as pessoas não se esqueçam de mim, eu quero que eu seja importante para alguém. Tudo o que podemos fazer é aproveitar o tempo que temos com nossos amigos, amantes, família para que possamos construir algo, por menor que seja, uma casinha no coração de alguém já será um bom legado. Foi quando eu escrevi Legacy, há meses, quando eu ainda estava divulgando o Violence, que eu descobri qual deveria ser a temática do meu próximo álbum, eu queria falar sobre isso, fazer essas reflexões, então me coloquei pra pensar bastante sobre todas essas coisas e construir esse conceito. Quanto à sonoridade, eu gosto do violino e de como a música vai crescendo e dos meus vocais ora baixos, ora altos, é tudo tão lindo para mim, eu realmente adoro essa música. Acho que se alguém me presenteasse com um buquê de forget-me-nots eu seria eternamente grata a essa pessoa, não somente por causa de como eu contextualizei essas flores no meu disco, mas por causa do próprio significado que ela carrega ao dizer que você não vai esquecer alguém e aproveitará ao máximo todos os momentos que tiver que essa pessoa, valorizando assim, a vida. É isso, obrigada.
Graham: Muito bem, Agatha! É isso aí! Obrigado pela sua participação no nosso programa e por ter explicado tudo sobre esse álbum maravilhoso que já está disponível em todas as plataformas digitais! Agora canta um pouquinho pra gente, por favor?
Para encerrar a sua participação no programa de TV, Agatha canta Titanium Walls com Stefan Lancaster e a faixa Legacy, se despedindo da plateia e de Graham Norton em seguida e finalmente deixando o palco.
Graham: Estamos de volta, pessoal! Agatha, preparada para dar prosseguimento às explicações acerca do Forget Me Not?
Agatha: Sim! Estamos indo para a segunda metade agora, estou mesmo animada para continuar explicando sobre tudo isso, mas tem mais uma coisinha que eu gostaria de salientar antes para que fique mais fácil a contextualização dessas faixas restantes. Eu deveria ter falado sobre isso em Blue Heart, mas o tempo já estava acabando, então deixei para falar agora mesmo.
Graham: E o que seria essa coisa que é tão importante assim?
Agatha: O Forget Me Not é um álbum extremamente visual, assim como a maioria das minhas músicas, mas este tem uma locação em específico, um cenário para todas as faixas, o que faz com que o álbum até se assemelhe a um filme. Isso é porque durante esse ano, eu utilizei bastante da meditação. Quando eu medito, eu geralmente me imagino em uma floresta e lá eu vou andando e explorando, relacionando as coisas que eu encontro com a minha vida, e isso me ajuda muito a compreender muitas coisas e lidar com elas. É quase como se fosse um planeta criado pelo meu subconsciente e eu sempre o visito. Eu já desbravei muito dessa floresta, então só fazendo clipes para todas as músicas do Forget Me Not eu conseguiria mostrar todos os locais dela. Para vocês terem uma ideia, no rio de Blue Heart, tem um reino subaquático abandonado que estaria relacionado a Dark Stained, a sétima faixa do álbum a qual vou comentar daqui a pouco. Mas eu estou trazendo somente os lugares mais importantes e aqueles que mais tiveram impacto para mim e que acredito que terão mais para o público. Eu posso dizer que essa floresta é bem importante pois me fez enxergar muitas coisas de formas diferentes, quando eu me sentia triste ou irritada, eu passava um tempo lá e logo me sentia melhor após ver algumas coisas. Talvez algum dia eu mostre todo esse local para vocês, confesso que vai ser muito interessante fazer isso e aponte onde cada faixa se encontra, Flowers, Rotten Tree, Blue Heart, etc.
Graham: Você já havia mencionado essa floresta enquanto divulgava o clipe de Blue Heart, mas ouvir agora com mais detalhes é realmente mais interessante.
Agatha: Então, como eu disse, vamos para a sétima faixa do Forget Me Not: Dark Stained. Essa música é sobre reflexão e introspecção, uma música que eu escrevi após muito pensar em várias atitudes que tomei na minha vida e principalmente no decorrer deste ano. Eu tive inspiração para escrevê-la enquanto conversava com uma pessoa no Twitter e eu fiz a associação de que a tristeza era um espelho sujo, mas algumas pessoas escolhiam ver as manchas e outras, o reflexo. Quando se você o reflexo, você pode descobrir o que tem de errado e tentar mudar, se focar somente nas manchas, nunca terá esse processo de reflexão. Dark Stained vem falar exatamente sobre como a tristeza me fez perceber alguns dos meus erros ao me olhar no espelho e como a partir daí eu pude mudar quem era. Reconhecer seus erros é muito difícil e muito doloroso, você precisa de muita maturidade pra fazer isso. Eu lembro que uma noite eu percebi que havia cometido um erro muito grave e eu me senti péssima, fiquei chorando a madrugada toda depois de ter me visto nesse espelho sujo, eu sei bem como é essa sensação, mas o que importa não é o que fizemos ou quem fomos desde que pretendamos mudar isso, foi algo que também descobri esse ano. Dark Stained é uma música bem acústica e um pouco voltada ao folk com uma atmosfera mais pesada e obscura, como eu pretendia que fosse. A parte da floresta que está relacionada com Dark Stained é o rio, lá é onde vejo meu reflexo. Esse rio também esteve presente no clipe de Blue Heart, mas ali estava mais contextualizado como limpeza. Bem, acredito que tenha as duas funções, haha.
Graham: É muito importante isso que vocÊ fez, Agatha, ter maturidade o suficiente para encararmos o nosso reflexo e descobrirmos nossos erros. Muitas vezes é difícil apontarmos o que há de errado em nós mesmos e esse tempo de reflexão é ideal.
Agatha: Exatamente! Por isso, já trago a próxima faixa, Bleed, que é a oitava do material. Ela fala justamente sobre se colocar nesse processo de reflexão através do auto isolamento. Bleed foi uma das primeiras músicas que escrevi para este álbum e eu a quase descartei, mas depois de reescrevê-la, considerei importantíssimo deixar, pois introduzia o tema da vida para eu reintroduzir o tema da morte desde Flowers. O sangue muitas vezes é associado com uma coisa negativa, e realmente é, haha, mas também podemos interpretá-lo como vida. Se há sangue, há vida. Inclusive essa é uma das razões dos desenhos na parede da caverna no clipe de Blue Heart terem sido feitos com sangue, representam vida e têm um enorme poder. Bleed conta que é melhor se sentir alguma coisa do que não sentir nada, pois pelo menos você sabe que está vivo. É uma música sobre valorização à vida, apesar de ser extremamente triste. Eu passei por muitas fases difíceis há algum tempo em que eu tentava reprimir o que sentia, mas felizmente como vocês já sabem, eu consegui sair disso em Blue Heart. Bleed retrata justamente o pós deixar de reprimir, as consequências disso. Foram muitos sentimentos e emoções com os quais eu não consegui lidar muito bem e acabei me auto isolando como digo na música, mas isso só serviu para que eu pudesse pensar ainda mais em todas as coisas e refletir ainda mais sobre a vida e a morte. Eu acho que esse tempo de reflexão foi ideal para que eu concluísse o Forget Me Not da melhor forma, pois sem ele eu jamais teria percebido algumas coisas, apesar de não ter ajudado muito a lidar com o que eu estava sentindo, afinal de contas, se isolar nunca é bom.
Graham: Acho que todos nós precisamos de um tempo sozinhos de vez em quando para reorganizar as ideias em nossa mente, mas há situações e situações. O seu isolamento pode não ter te ajudado com o que você queria que ajudasse, mas com certeza te ajudou em outro sentido, a ver as coisas de uma forma diferente.
Agatha: Sim, você está entendendo a premissa do álbum. A partir dessa nona faixa, eu acredito que entramos em uma fase diferente do álbum, que deixa de ser tão melancólica. Storm Above é sobre ver essa tempestade acima de você, mas saber que ela é passageira, afinal de contas, depois de toda tempestade, sempre há um arco-íris, isso chega a ser clichê, mas é verdade. Às vezes quando estamos no meio da tempestade, não conseguimos pensar nisso, mas é ideal que pensemos, afinal de contas, só precisamos entender que depois de passarmos por aquilo, por mais difícil que seja, ficaremos bem. Os tempos voltarão a sorrir para nós. Acredito que é uma das faixas mais poderosas do disco nesse sentido, pois ela fala tudo o que eu aprendi nesse tempo de isolamento e introspecção, como por exemplo, aprendi sobre amor próprio, que vai muito além de autoestima, tem a ver com autopreservação e lá no fundo da nossa alma, na nossa ancestralidade, conforme eu descobri na floresta, tem a ver com instinto de sobrevivência. E essa é a arma mais poderosa para enfrentarmos as coisas no mundo. Posso dizer que talvez eu tenha saído um pouco da caixa aqui por fazer uma música mais pop, eu honestamente estava considerando fazer do Forget Me Not um álbum pop há algum tempo, mas eu mudei de ideia pois queria algo mais calmo o folk e muitas músicas acústicas, afinal de contas, para um álbum todo baseado no azul, não podia ter uma sonoridade diferente do que uma calma, já que o azul é a cor da tranquilidade e serenidade, haha.
Graham: Não havia percebido esse detalhe sobre a sonoridade, muito interessante! Faz total sentido agora.
Agatha: Bem, a décima faixa é Pines. Eu gosto bastante dela, apesar de ter total ciência de que não é a melhor do Forget Me Not. Pines é sobre crescer e amadurecer, sendo relacionável ainda com o aprendizado a partir dos erros lá em Dark Stained. Bem, aqui eu faço uma comparação de mim mesma com um pinheiro que pode crescer e chegar a alturas absurdas, tudo o que eu preciso fazer é ser paciente. Na verdade, isso serve para todos nós. Constantemente estamos vendo pessoas amadurecendo mais rápido, chegando a alturas maiores do que nós e ficamos nos comparando a elas, mas também há pessoas que crescem mais devagar e não tem absolutamente nada de errado nisso, cada um tem seu tempo e passa por coisas diferentes, não dá pra esperar que todos tenhamos a mesma evolução com o passar dos anos, é simplesmente irreal pensar isso. Mas Pines não é somente sobre isso, tem também um caráter de resistência, mostra como somos fortes apesar de tanta coisa que passamos, mas que tudo isso nos ajuda a crescer. Uma das interpretações paralelas para essa letra é a de que um pinheiro não floresce, e o florescimento está diretamente relacionado à capacidade reprodutiva das plantas, óbvio que os pinheiros têm outras formas de se reproduzir, mas vamos considerar que não para essa interpretação. Talvez eu tenha feito essa relação pensando também nisso, sobre nunca encontrar alguém na vida. E não, eu realmente não inventei isso agora. Quem viu o lyric video de Blue Heart sabe que tem uma cena em que o passarinho tenta se aproximar de outros, mas não o querem por perto, e há vários casais de passarinhos e ele continua sozinho. Eu disse que esse lyric video ia resumir o álbum e essa foi uma das cenas que eu pensei já lembrando desse detalhe em Pines.
Graham: Oh, realmente é uma das possíveis interpretações, sim. Faz sentido, mas vou ter que discordar desse seu sentimento de solidão.
Agatha: Haha, veremos. Ok, estamos chegando na reta final. A décima primeira faixa, The Ghost and The Cliff. Eu escrevi essa música há alguns anos, ela se chamava On The Edge Of The Cliff, mas eu reescrevi ela inteiramente e ficou completamente diferente do que era, então eu considero duas músicas diferentes. O nome original era A Ghost Pushes Me Down The Cliff, mas enquanto fazíamos a arte para a contra-capa do álbum onde colocaríamos os nomes das faixas, nos deparamos com o problema de que o nome era grande demias para caber e ficar com uma estética bacana, então eu tive que repensar em um título para essa faixa, acabei gostando de The Ghost and The Cliff, bem mais simples, intimista e misteriosa, mas ainda fala do conteúdo da letra. É uma relação um pouco difícil de se fazer, eu acredito, com um fantasma e um penhasco, mas eu explico. O penhasco representa a vida, ou melhor, o fim dela, um ponto em que estamos tão próximos da borda que apenas mais um passo seria o suficiente para nos levar para a morte; o fantasma representa o mistério, o fato de que não sabemos quando isso vai acontecer. São conceitos bastante abstratos, mas uma vez que se entende a relação, fica fácil de compreender o que a música quer passar. The Ghost and The Cliff é sobre a fragilidade da vida, sobre como estamos aqui, mas daqui a alguns minutos podemos não estar mais. Estamos vivendo constantemente na borda, só esperando o fantasma nos empurrar, como não o vemos, não sabemos quando acontecerá e isso assusta, é normal. Para essa faixa, eu estava bem triste, me culpando por muitas coisas e refletindo tudo o que eu já tinha feito durante toda a minha vida, me colocando como uma grande vilã como se eu merecesse ser empurrada logo daquele penhasco, eu estava praticamente implorando para o fantasma vir, se vocês viram a letra devem ter percebido isso. Ali era um sentimento de culpa, medo e raiva expressados em muita tristeza, é o que pensar sobre a morte faz conosco. Eu já vivenciei isso vezes o suficiente para estar sempre pensando que eu posso estar na borda do penhasco e o fantasma cada vez mais próximo, já com as mãos estendidas para minhas costas. Essa música eu mesma produzi, ela é quase inteiramente com piano, o que a deixa ainda mais pessoal e conectada a mim. Muitas pessoas me disseram que é a melhor faixa do álbum e confesso que eu não achava, mas quanto mais eu penso nela, mais concordo. Um amigo chegou a me contar que chorou enquanto ouvia e eu me senti tão... bem, eu acho. Fiquei feliz de ter arrancado lágrimas de alguém assim como arranquei de mim, fiquei com uma sensação de dever cumprido, era exatamente isso que eu queria fazer, passar a sensação que eu tive.
Graham: Sou suspeito porque minhas músicas preferidas deste disco são os singles Blue Heart e Titanium Walls, mas devo concordar que The Ghost and The Cliff é linda, não cheguei a chorar, mas deu vontade, sim.
Agatha: Obrigada, de verdade. E chegamos à décima segunda e última faixa do álbum, uma pena, estava tão bom conversar aqui, haha. Legacy foi por algum tempo a minha faixa preferida, mas como eu disse, agora acho que não tenho mais tanta certeza disso. Essa música encontra um significado para vida após tanta reflexão na beira do penhasco. Ao meu ver, nós vivemos por um legado, queremos deixar registrado que passamos por aqui. E quando eu digo legado, não quero dizer algo grande, um feito científico gigante que vai nos lembrar por gerações, mas simplesmente deixar uma lembrança no coração de alguém que nos ama já vai ser um legado enorme dependendo de como você vê as coisas. Seu legado pode ser algo que você escreveu, algo que você disse... Qualquer coisa para que não nos esqueçam, como o título do álbum fala. Aqui eu falo muito sobre a morte, sobre como saber que tudo acaba é um alívio. Afinal, se não existisse a morte, nunca daríamos valor à vida, então ela é muito importante para que valorizemos essa coisa tão especial que temos o privilégio de ter. Legacy explora todo o processo de morte, enterro, decomposição do corpo, memórias deixadas para trás e avançando no tempo, até a destruição do universo, mostrando como apesar de tudo, ainda somos tão pequenos. Mas o importante é que se deixamos alguma coisa, se deixamos o nosso legado, já terá valido e muito. Óbvio que essa não é uma verdade universal, é o sentido que eu encontrei para a vida, é para isso que eu quero viver, eu quero que as pessoas não se esqueçam de mim, eu quero que eu seja importante para alguém. Tudo o que podemos fazer é aproveitar o tempo que temos com nossos amigos, amantes, família para que possamos construir algo, por menor que seja, uma casinha no coração de alguém já será um bom legado. Foi quando eu escrevi Legacy, há meses, quando eu ainda estava divulgando o Violence, que eu descobri qual deveria ser a temática do meu próximo álbum, eu queria falar sobre isso, fazer essas reflexões, então me coloquei pra pensar bastante sobre todas essas coisas e construir esse conceito. Quanto à sonoridade, eu gosto do violino e de como a música vai crescendo e dos meus vocais ora baixos, ora altos, é tudo tão lindo para mim, eu realmente adoro essa música. Acho que se alguém me presenteasse com um buquê de forget-me-nots eu seria eternamente grata a essa pessoa, não somente por causa de como eu contextualizei essas flores no meu disco, mas por causa do próprio significado que ela carrega ao dizer que você não vai esquecer alguém e aproveitará ao máximo todos os momentos que tiver que essa pessoa, valorizando assim, a vida. É isso, obrigada.
Graham: Muito bem, Agatha! É isso aí! Obrigado pela sua participação no nosso programa e por ter explicado tudo sobre esse álbum maravilhoso que já está disponível em todas as plataformas digitais! Agora canta um pouquinho pra gente, por favor?
Para encerrar a sua participação no programa de TV, Agatha canta Titanium Walls com Stefan Lancaster e a faixa Legacy, se despedindo da plateia e de Graham Norton em seguida e finalmente deixando o palco.