Post by luis on Jan 20, 2021 15:15:12 GMT -5
A indústria musical atual se baseia muito em paradas musicais (os famosos charts) além do desempenho em plataformas de streaming musical como Spotify, Youtube, Itunes, etc. É inegável que a nossa indústria mudou, e a forma de crescer nela também. Afinal, ter uns hits nas paradas se tornou ainda mais fácil com a internet. Mas tornou também a música mais descartável. Se qualquer um tem um hit, qualquer um se torna uma lenda. E você não é uma lenda se está junto a outros milhares. Então, como se tornar uma exceção nisso se não servindo qualidade? Como ter impacto nos tempos em que a música é tão descartável? Conversamos com Nanwom, o vocalista da aclamada banda Golden Castles, e ele nos contou um pouco sobre o objetivo de marcar a indústria sem precisar de músicas “do momento”. Acompanhe:
Namwon, você e seus companheiros de banda começaram a banda Golden Castles sem intenção de grandes hits, mas sim outros objetivos. Quais?
Bem, tanto eu e tanto o pessoal passamos por uma vida bem dura e o que nos uniu foi a depressão, doença essa que nós quatro sofríamos. Nos conhecemos em um centro de recuperação, e passamos por isso juntos. Quando a gente pensou na banda, nosso intuito era só esse: precisamos falar de saúde mental. E sobre a vida, e sobre a depressão, e sobre várias outras coisas que em 2021 já soam saturadas mas que DEVEM ser comentadas para sempre. Então passar essa mensagem é o nosso objetivo, definitivamente. É legal ver alguma música nas paradas, só que significa muito mais pra gente os comentários positivos. A gente já viu tanto depoimento de pessoas que desistiram do suicídio graças a nossas músicas e é isso que dá gás pra gente continuar.
Por que o rock?
Bem, nós quatro somos fãs (risos). Mas também porque consideramos um gênero muito mais intimista e expressivo, assim como o folk, outro gênero que a gente também adora. O rock expressa alegria, raiva, tristeza, sem soar muito esquisito. Mas a gente não gosta de se prender a isso e por isso nos declaramos uma banda de rock experimental. Porque experimentamos de tudo e de todos os gêneros no momento certo. Então pode esperar da gente country, pop, folk, punk, jazz, de tudo. Talvez não o rap. É, rap não é nossa praia (risos).
O segredo pro sucesso então é esse? A versatilidade?
Ah, claro. Mas acredito que isso seja uma coisa mais pessoal de cada artista, porque também existem milhares de artistas que dominam as paradas sem nunca mudar o gênero das músicas. O lance da gente fazer isso é a expressividade, porque música é muito mais que uma letra bonitinha. O instrumental dela também deve ser coerente, e é isso que leva a gente a experimentar de tudo. Mas acontece que atualmente, isso não é muito valorizado como antes.
Como assim?
Digo, hoje as pessoas se importam mais com tendências e com a batida viciante que ela tem. Letras não tem mais o mesmo impacto pro sucesso. Letras ainda importam, lógico, mas se tornou uma coisa de nicho. Pra música pop por exemplo, as letras não têm a mesma importância que pro rock ou country. São nichos diferentes, por isso é difícil denominar um hit.
Vocês não se importam de ter um hit para essa mensagem chegar mais rapidamente para as pessoas?
Eu acredito que se for pra chegar, uma hora vai chegar. Não precisamos aplicar dinheiro pra estar em mil playlists e rádios. Só cantamos e fazemos o que está ao nosso alcance para também não sermos completos anônimos. E acredito que não somos, não é? (Risos). Olha onde eu estou, na revista Time! E sem ter um hit número um. Entende agora? Vocês são o próprio exemplo da pergunta (Risos).
Vocês sofreram com a pandemia bem no início da carreira. Como vocês se reinventaram para que isso desse certo?
Quando nós lançamos o Something is Missing, a gente fez o que estava ao nosso alcance. Pagamos outdoors, fomos para programas de rádio e aparecemos em alguns jornais. E quando tivemos a oportunidade de nos aprofundar nessa divulgação, veio a pandemia. De começo, foi um choque. A primeira coisa que pensamos foi internet. Criamos redes sociais e tentamos garantir algum hit de TikTok, talvez. Mas a pandemia nos fez repensar e a gente entendeu que nosso verdadeiro objetivo não era o hits, e sim nos abrir. Criamos o Generation Tears durante a pandemia pra falar tudo que estávamos sentindo, e acabou servindo como uma deluxe pro nosso álbum. Juntamos o bom ao necessário e transformamos as duas eras em uma só. Juntamos as estéticas e cantamos as músicas dos dois projetos na turnê. Desse jeito, já temos uma era grande e mal reparamos (Risos). O irônico é que o Generation Tears tem muita música relativamente pop, e quando se ouve pela primeira vez você pensa: como isso não é um hit? E então você entende que o objetivo não é esse. E que às vezes pop não é feito pelo hit.
Porque a mudança de estética brusca de um projeto pro outro?
O Something is Missing é um álbum que fala de depressão e como aquela era nossa entrada no mundo musical, queríamos uma coisa que mostrasse bem nossas intenções, sabe? Usamos o P&B para trazer esse aspecto mais íntimo, e aí é que entra a ironia: Embora na capa do álbum tudo seja em P&B, e que usemos roupas pretas, ainda estamos rindo. Porque essa é a energia da coisa, de sorrir mesmo com tudo tão escuro. E aí com o Generation Tears a gente quis trazer de vez essa cor, afinal o mundo todo estava passando por essa fase ruim. E juntar essas duas coisas significa: vamos ficar bem agora. Já temos a resposta e temos que usá-la o máximo que pudermos.
Vocês têm planos para os próximos projetos?
Não só temos como já começamos eles (Risos). Ainda há muito debate que deve ser levantado, mas uma coisa de cada vez. Eles ainda estão distantes, mas vão ser bem diferentes do que apresentamos até agora. Diferente sem perder a identidade. É difícil explicar, acho que só quem é artista entende (Risos).
Vocês sem dúvidas estão se tornando uma exceção na indústria musical atual. Estão conseguindo marcar com suas letras e mensagens sem grandes picos na parada. A arte de vocês vai além disso.
Nossa! Muito, muito obrigado. O nosso objetivo é continuar nessa linha enquanto formos artistas. Seja em banda, ou solo. Essa é nossa missão. Muito obrigado, Time.
A banda Golden Castles está se apresentando pela primeira vez em uma turnê mundial, com shows pela Ásia, América e Europa, até o final de feveirero. Mais informações e compra dos ingressos pelo site oficial GoldenCastles.com.