Post by onikastallion on Sept 10, 2020 16:54:04 GMT -5
ONIKA STALLION DEBATE RACISMO E O CONCEITO DO SEU SINGLE NA 97.1 THE POINT FM
Hoje à tarde, a entrevista à 97.1 The Point FM, a compositora do single Futuristic Woman, diz o que deve ser feito por quem quer combater o racismo e sobre o papel dos pais na educação antirracista de seus filhos e como foi a sua educação. A conversa foi mediada pelo radialista Gregory Kurban, que conversou com a artista. Confira o diálogo abaixo:
GREGORY: O que falta para haver esse diálogo mais maduro?
GREGORY: Você acha que essa falta de entendimento sobre o que é racismo tem a ver com a forma pela qual algumas culturas interpretam a questão da liberdade?
GREGORY: Por que, até hoje, não conseguimos promover uma maior igualdade para parcelas da população, como negros e mulheres, que são tão representativos numericamente e, no entanto, têm uma baixa representatividade como formadores de opinião e tomadores de decisão?
[ONIKA]: O mito da democracia racial escamoteou durante muito tempo o racismo nos Estados Unidos e no mundo. As pessoas acreditavam que não havia racismo aqui. Até hoje, isso se reflete na falta de maturidade ao debater esse assunto. As pessoas ainda não entenderam que o racismo é um sistema de opressão. Eu observe o Brasil, além de mais de 300 anos de escravidão, foi o último país do mundo a abolir a escravatura. No período de pós-abolição não foram criados mecanismos de inclusão. No processo de industrialização, incentivou-se a vinda de imigrantes europeus para cá. Foi essa trajetória que levou a população negra a uma situação muito grande de pobreza e vulnerabilidade social. Ao mesmo tempo, desenvolveram-se mitos como o de que não existe racismo no Brasil, que isso só acontece na África do Sul ou nos Estados Unidos. Na verdade, o racismo é um elemento estruturante, ou seja, ele estrutura todas as relações sociais nos Estados Unidos. Mas a gente não encara esse assunto da maneira como deveria. Até hoje, se vemos algum caso de racismo, por exemplo, com um artista, as pessoas acham que é um caso isolado, acham que o racismo se resume somente às ofensas e não percebem que o racismo é um sistema opressor que nega direitos a um determinado grupo conferindo privilégios a outro.
GREGORY: O que falta para haver esse diálogo mais maduro?
[ONIKA]: Falta ouvir mais os movimentos sociais, pois a gente [os militantes] tem pautado isso [o racismo como elemento estruturante do país] há muito tempo. Isso vale até mesmo para a esquerda. Eu sou de esquerda, a famosa comunista, mas sou muito crítica ao debater a questão racial e de gênero nesse âmbito. Durante muito tempo, a esquerda dizia que tudo era uma questão de classe e só se guiava por isso. Só depois de resolver a questão de classe é que seriam sanadas outras questões. Dizia-se ao movimento feminista e de raça que eles dividiam a luta. Só que, no nosso país, não tem como falar de classe sem falar de raça e de gênero, porque raça indica classe, e o racismo impede a mobilidade social da população negra, criando uma grande massa de negros pobres. O racismo também cria uma hierarquia de gêneros, colocando a mulher negra em uma situação muito maior de vulnerabilidade social. Se a gente parar para pensar nos grandes partidos, inclusive os de esquerda, quem são os seus dirigentes? Homens, brancos, de classe média. Onde estão as mulheres? Ou os homens negros e as mulheres negras? A gente não tem um protagonismo para pautar nossas questões, ficamos sempre com o intermediário do homem branco de posses.
GREGORY: O que você quis representar no seu single?
[ONIKA]: Sou confiante de que não temos mais como retroceder, mas ainda há muito caminho pela frente. Os avanços ainda contam muito pouco perto de tudo aquilo que o país deve à população negra. As pessoas não veem isso como uma dívida, não percebem, por exemplo, que as ações afirmativas não são um benefício para a população negra; na verdade, é uma reparação a todos esses anos de desigualdade. Então decidi fazer minha parte também, para colaborar nesta causa. Visto que todo lucro arrecadado nesta canção será doado para instituições de apoio à famílias negras. E além disso, transmitir uma mensagem para o mundo e um alerta.
GREGORY: Em relação a outros países que também possuem uma sociedade diversa, como você vê a posição dos Estados Unidos? Como nos situa nesse cenário mais internacional?
[ONIKA]: O racismo é sempre ruim. Os próprios habitantes de um determinado lugar podem dizer, mas acho que, nos Estados Unidos, o racismo é um “crime perfeito”, porque, ao mesmo tempo que temos uma sociedade extremamente racista, as pessoas dizem que não são racistas, ou seja, é uma sociedade de racistas sem racistas. As pessoas não falam sobre isso e, se você diz que alguém teve uma atitude racista, há respostas como “imagina, eu tenho um tataravô que era negro” e [o agressor] fica ofendido e não percebe que todos foram criados para serem racistas, da mesma forma que todo mundo foi criado para ser machista. Isso mostra que a gente ainda tem uma imaturidade muito grande para debater o tema e saber a diferença, por exemplo, entre racismo e preconceito. Você não pode dizer que alguém sofreu preconceito ou racismo porque a sociedade é racista. Quando a sociedade é racista, os espaços não estão isentos.
GREGORY: Você acha que essa falta de entendimento sobre o que é racismo tem a ver com a forma pela qual algumas culturas interpretam a questão da liberdade?
[ONIKA]: Tem tudo a ver. Nos Estados Unidos e na África do Sul com o apartheid, que era lei – o racismo era constitucional, as pessoas sabiam que existia. Tinha escola para negro, escola para branco, e o negro sabia que não podia ir a determinados espaços. Eu lembro que até mesmo uma parte da população negra brasileira acreditou que não havia racismo. Basta ir às escolas públicas e ao colégio privado. Outro elemento que contribui para essa falta de entendimento é a miscigenação. Mas as pessoas esquecem que houve uma política oficial de branqueamento da população do mundo, trazendo imigrantes europeus para cá para miscigenar e acabar com a população negra, porque se acreditava que ela representava o atraso.
GREGORY: Como a você vê a questão da origem do preconceito? Principalmente nessas ações do cotidiano, de onde vem essa intolerância ao que é diferente? Pode-se dizer que é algo que nasce com a gente? Ou seria uma construção social?
[ONIKA]: É uma construção social. A gente já nasce numa sociedade que tem uma hierarquia de humanidade em que, se você é negro, vai ser tratado de um jeito, se é branco, vai ser tratado de outro. A sociedade já estabelece essas construções para nós e vamos assimilando isso, internalizando e aceitando como verdade. Ninguém nasce odiando ninguém, a gente aprende a odiar.
GREGORY: A explicitação do racismo e do ódio pode resultar em algo positivo? Evidenciar que existe o racismo pode ser bom, pois enfrentar o que não se vê é mais difícil?
[ONIKA]: O primeiro passo é parar de negar a existência [do racismo], pois para mim, como negra, o racismo nunca foi camuflado. Para mim, sempre foi declarado, desde o momento em que eu entrei para a escola. Ou pela forma como as pessoas te olham quando você chega em um local… É importante quando quem não é o objeto daquilo começa a tomar consciência, porque ele também se vê como parte do problema. E, se você não faz nada para mudar, é porque concorda com esse tipo de coisa. Assumir responsabilidade pela mudança também é importante.
GREGORY: Qual o seu posicionamento sobre pessoas brancas participarem de movimentos antirracistas? Você acha que elas devem participar ou usa o argumento de que se não for negra não tem o porquê de participar?
[ONIKA]: Aqui nos Estados Unidos, recentemente, pessoas brancas estavam fazendo um cordão ali, porque entendem que tem uma relação diferente da polícia com elas. Acho que deve, porque o racismo é uma problemática branca, como diz a Grada Kilomba. Não foi criado por nós. Então é importante que as pessoas brancas se responsabilizem por isso e tenham de fato ações antirracistas, porque esse é um problema que diz respeito à toda a sociedade, não é um problema da população negra. É fundamental que as pessoas brancas cobrem atitudes, sobretudo nos espaços onde não acessamos. Que elas cobrem, reivindiquem, entendam esse lugar social e a importância de se manifestar e de agir em relação a essas questões. Não basta só reconhecer o privilégio, precisa ter ação antirracista de fato. Ir a manifestações é uma delas, apoiar projetos importantes que visem a melhoria de vida das populações negras é importante, ler intelectuais negros, colocar na bibliografia, quem a gente convida pra entrevistar, quem são as pessoas que a gente visibiliza. É uma série de ações que devem ser tomadas e que as pessoas vão entender a partir do momento que entenderem empatia como uma construção intelectual, que exige empenho, exige esforço e não é algo que vai acontecer espontaneamente, porque precisa ir desconstruindo essas visões e isso passa necessariamente pela construção intelectual.
GREGORY: Onika, infelizmente a nossa entrevista chegou ao fim. Estamos muito agradecidos por ter aceitado participar deste debate. Você é bastante especial para esse movimento, utilizar o seu poder mundial e sua plataforma, ajuda milhões de pessoas. E esperamos que sempre esteja se posicionando. Agradecemos a sua participação.
[ONIKA]: Estou infinitamente feliz em ter aceitado o convite e poder expressar minha opinião para milhões de pessoas. E sim, sempre estarei utilizando as minhas plataformas para exaltar a cultura negra. Decidi fazer isso com as minhas letras e batidas. Inclusive, ouçam meu single Futuristic Woman, disponível em todas as plataformas digitais.
GREGORY: Vamos terminar esta entrevista da melhor forma possível, ouvindo o seu novo single Futuristic Woman. Com vocês...
A entrevista foi finalizada e o single da rapper começou a tocar na rádio. Confira o link abaixo para ouvir nas plataformas digitais:
mdseason1.boards.net/thread/212/onika-stallion-futuristic-woman
[DIVULGAÇÃO PARA FUTURISTIC WOMAN BY ONIKA STALLION]
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