Post by onikastallion on Sept 10, 2020 21:10:19 GMT -5
ONIKA STALLION DEBATE LUTA DE CLASSES NOS ESTADOS UNIDOS
Desde o começo de 2020 dois terremotos políticos sacudiram os Estados Unidos. O primeiro são as consequências econômicas, sociais e políticas aprofundadas pela pandemia do COVID-19. O segundo são os levantamentos contra a repressão policial racista. A combinação entre os dois eventos estão transformando os parâmetros da luta de classes nos Estados Unidos. Para esta entrevista, a rapper Onika Stallion estará presente na nossa transmissão para melhor entendimento. A artista, que voltou focada a debater assuntos como racismo, sociedade e discriminação, retornou do seu hiatus com seu novo single Futuristic Woman, que fala justamente disso. Confira a entrevista abaixo:
VITÓRIA: Hoje iremos falar sobre um assunto importante na nossa sociedade e como o contexto vivido influenciou diversas mudanças nas nossas vidas. Para esta conversa, a rapper Onika Stallion foi convidada para participar. Seja muito bem vinda, como você está?
[ONIKA]: Boa tarde. Estou muito bem, gostaria de agradecer pelo convite! Muito contente de estar podendo participar desta entrevista.
VITÓRIA: Agora sem mais delongas, sabemos que 2020, foi e está sendo um ano difícil para a população mundial. Muitos acontecimentos vieram com tudo neste ano, principalmente o corona vírus e o assassinato de um rapaz, chamado George Floyd. Você pode expressar a sua opinião conosco?
[ONIKA]: O primeiro elemento a enfatizar é que a revolta em curso contra a brutalidade policial e o racismo sistêmico representam um giro à esquerda na situação política. Não somente houve grandes (e em alguns casos massivas) mobilizações durante três semanas seguidas em dezenas de cidades ao largo do país, como também, e esta é a chave, o apoio para aqueles que se mobilizam é massivo apesar do risco da expansão da COVID-19. As pesquisas mostram que a maioria das pessoas reconhecem e condenam a brutalidade policial racista, e estas porcentagens chegam a alcançar 80% entre os jovens. Semelhante questionamento, profundo, em relação a primeira linha de defesa do estado capitalista, a polícia, marca uma mudança na maneira que a população pensa a política e o governo.
VITÓRIA: Você acha que a eleição de Donald Trump tem alguma relação com o assassinato do rapaz?
[ONIKA]: Eu acredito que sim. Sabemos que Donald Trump implantou políticas mais reacionárias que a verdadeira consciência política da classe trabalhadora e a relação de força entre as classes. Agora vemos um giro à esquerda marcado por massas de pessoas condenando a polícia e confrontadas, uma vez mais, com a continuidade do racismo brutal nos Estados Unidos. Não nos chama atenção que Trump esteve constantemente deslocado desde que os protestos começaram. Em lugar de encher a boca propagando ideais liberais de democracia e igualdade pra diminuir as tensões, Trump jogou lenha na fogueira com ameaças no Twitter contra os manifestantes além da negativa em reconhecer a ilegalidade da ação policial. Por conta disto, se afunda nas pesquisas da eleição presidencial deste ano.
VITÓRIA: Você acredita que a polícia é amiga dos trabalhadores?
[ONIKA]: Evidentemente que não. Este é um debate necessário dentro de nossos sindicatos que podem elevar a consciência da classe dos afiliados. A polícia sempre foi e sempre será inimiga da classe trabalhadora, dos organizadores e ativistas que ultrapassam os limites impostos pelas patronais e o governo, implementando ações legais e ilegais para lutar a favor do interesse dos trabalhadores. A polícia sempre será inimiga das minorias da classe trabalhadora, aqueles que sofrem uma maior opressão entre os próprios operários. Eu estive presente, durante o meu hiatus, em diversos sindicatos, e vi o como ela se mostra oposta aos trabalhadores. Esta possibilidade chega em um momento em que os sindicatos se encontram sobre pressão para ser transformados, democratizados, e aumentar sua combatividade. Durante a pandemia da COVID-19, houve uma onda de greves selvagens, interrupções laborais e retirada em massa de trabalhadores das fábricas. Em alguns casos, como nas greves, estas ações tiveram alcance nacional.
VITÓRIA: Por que os protestos eclodiram agora, e com tanta força?
[ONIKA]: O assassinato do George Floyd, evento que catapultou isso, foi o estopim de uma insatisfação crescente, diante de assassinatos sistemáticos pela polícia nos Estados Unidos. Não é a primeira vez que isso ocorre, e em grande parte das vezes não há reforma nas instituições policiais. E mais: os indivíduos que estão diretamente envolvidos na situação muitas vezes não recebem punição. Ou seja, é um sistema que falha porque produz esse tipo de aberração e a própria instituição não consegue estabelecer mecanismos punitivos que funcionem contra seus agentes que se desviam daquilo que o sistema de Justiça se propõe a realizar. Isso passa um recado muito ruim para as pessoas. As manifestações são resultado de uma profunda desesperança e desconfiança no sistema político e no sistema econômico. Mas o fato de elas estarem desesperançadas com relação ao sistema não quer dizer que elas não tenham esperança de que a vida delas possa ter um outro rumo. Esses protestos não têm um horizonte claro, e não é um problema não ter. Porque esse horizonte político muitas vezes é dado no interior do próprio processo. A violência se apresenta [nos protestos] não como alternativa ou método, mas simplesmente como um fenômeno que ocorre justamente porque não são apresentadas pelas autoridades políticas alternativas para o diálogo. Na verdade, não há condições objetivas ou subjetivas das atuais lideranças políticas institucionais para oferecer o diálogo e, individualmente, os ocupantes do poder, principalmente do poder federal dos Estados Unidos, não têm sequer capacidade para isso. Isso porque foram eleitos justamente para implantar uma plataforma política de não-diálogo com as pessoas que estão protestando agora.
VITÓRIA: O lugar de fala pode ser usado como desculpa para se omitir? Quando falamos sobre manifestações antirracistas, como cada um pode encontrar o seu papel?
[ONIKA]: O lugar de fala é um conceito muito distorcido. Ou ele é usado como interdito no debate, no qual eu não posso falar. Ou as pessoas usam como desculpa para não ação: não tenho lugar de fala, não vou fazer nada. O lugar de fala é uma discussão, sobretudo, em relação a posição social. O lugar de fala é para romper com esse interdito que já está posto a nós, pessoas negras, de não ter o mesmo espaço de existência, pessoas indígenas, pessoas de grupos historicamente discriminados. Lugar de fala é pensar sobre esse regime de autorização discursiva que impede que a gente esteja presente nos espaços. Todo mundo tem lugar de fala, porque todo mundo está localizado socialmente. Só que o meu lugar social, de mulher negra nos EUA, é um lugar social de um grupo em que as nossas condições restringem oportunidades. E o lugar social do privilégio é o lugar que foi construído à base dessas opressões e que tem todos os privilégios. Então, quando a pessoa branca entende isso, entende que faz parte de um grupo social que não é natural, que é construído à base de opressão de outros grupos, por isso que só tem ela presente dentro dos espaços. A partir disso, o que ela pode fazer: o primeiro passo é desnaturalizar esse lugar e o segundo é entender nossas reivindicações históricas por outras possibilidades de existência que não sejam essas existências atravessadas pelas violências coloniais. Para as pessoas brancas, o primeiro passo é discutir branquitude nos Estados Unidos e ler o que os autores e autoras negros estão fazendo, produzindo historicamente. Porque, se não, ou fica num lugar de 'ah, não há nada que eu possa fazer' ou num lugar de 'ah, me ensinem o que posso fazer'. Eu sempre falo: leiam os livros que a gente já produziu. É importante entender a sua responsabilidade.
VITÓRIA: Gostaria de agradecer a sua participação na nossa entrevista de hoje, sinta-se convidada para aparecer mais vezes! As portas estarão abertas sempre para você. Mas infelizmente, chegamos ao fim. Aos ouvintes, ouçam o novo single de retorno da rapper, Futuristic Woman! Disponível em todas as plataformas digitais, no link abaixo:
mdseason1.boards.net/thread/212/onika-stallion-futuristic-woman
[DIVULGAÇÃO PARA FUTURISTIC WOMAN BY ONIKA STALLION]
VITÓRIA: Gostaria de agradecer a sua participação na nossa entrevista de hoje, sinta-se convidada para aparecer mais vezes! As portas estarão abertas sempre para você. Mas infelizmente, chegamos ao fim. Aos ouvintes, ouçam o novo single de retorno da rapper, Futuristic Woman! Disponível em todas as plataformas digitais, no link abaixo:
mdseason1.boards.net/thread/212/onika-stallion-futuristic-woman
[DIVULGAÇÃO PARA FUTURISTIC WOMAN BY ONIKA STALLION]