Post by onikastallion on Sept 14, 2020 23:46:22 GMT -5
ONIKA STALLION FALA SOBRE MACHISMO
Na entrevista desta tarde, a rapper Onika Stallion foi convidada para participar de uma entrevista à Rádio Beats 1, na qual debaterá sobre o machismo na sociedade. A rapper afirmou que quanto mais o homem se afaste do universo feminino, ‘’mais homem’’ ele será de acordo com a sociedade. Além do apoio que a rapper vem dando a diversas causas, principalmente o racismo, ela também aponta que é necessário promover iniciativas de reeducação com os homens autores da violência doméstica. A entrevista foi mediada pela radialista Karen Portman. Confira a conversa abaixo:
KAREN: Uma boa tarde à todos os ouvintes da Rádio Beats 1. Hoje conversaremos com a rapper Onika Stallion, que anunciou seu retorno recentemente ao mundo musical. Investindo em divulgação e promoção do seu single novo, Futuristic Woman. Estaremos conversando sobre o machismo. A rapper que vem se apossando de diversas causas, escolheu este tema para falar sobre. Seja bem vinda! Como você está?
KAREN: Vamos deixar de enrolação e vamos para a nossa entrevista! Queremos saber a sua opinião sobre a questão da masculinidade tóxica. Você percebeu que ela tem ganhado bastante destaque no debate sobre a igualdade de gênero. O que isso significa?
KAREN: Eu aprecio o seu pensamento! Concordo com isso também. Sobre a origem do comportamento da masculinidade tóxica, eu acredito que a história patriarcal e colonialista que embasou e ainda embasa nossa organização de gênero e, com isso, muitas práticas e valores culturais são bases do que hoje temos como aspecto da masculinidade.
KAREN: Você acha que é possível modificar esse tipo de comportamento?
KAREN: Sim! Super entendo. Nós que somos mulheres passamos por diversas coisas! E ainda temos que passar por essa objetificação. É triste. Mas como a masculinidade impacta sobre a violência doméstica e de gênero?
KAREN: Você já passou por relacionamentos tóxicos? Quais são os sinais para perceber isso?
KAREN: E quais são os caminhos para podermos construir masculinidades mais saudáveis?
[ONIKA]: Boa tarde! Estou bem e muito contente com o convite. E feliz em saber que está surtindo efeito os meus posicionamentos.
KAREN: Vamos deixar de enrolação e vamos para a nossa entrevista! Queremos saber a sua opinião sobre a questão da masculinidade tóxica. Você percebeu que ela tem ganhado bastante destaque no debate sobre a igualdade de gênero. O que isso significa?
[ONIKA]: De início tive certa dificuldade com essa expressão pois me soava como algo muito comercializável e pouco aprofundado em termos do que são e de que modo as expressões de masculinidades e as expectativas em torno do masculino impactam o cotidiano social. Hoje em dia gosto da expressão exatamente por seu impacto positivo na discussão da fragilização masculina provocada pelo machismo. Quando me refiro a machismo, entendo esse termo como um conjunto de atitudes, práticas e valores tradicionalistas, sexistas e misóginos, que se criou e se estabeleceu como uma de nossas bases culturais em decorrência de nossa base histórica patriarcal. Esse conjunto conduz comportamentos e expectativas em nosso dia-a-dia, de homens e mulheres. O machismo traz prejuízos individuais e sociais para a mulher como assédios, menosprezo do feminino, violências em relacionamentos afetivos e outras relações sociais, e impacta negativamente também o homem e esse fato precisa ser falado e compreendido nos mais diversos espaços. Importantíssimo destacar aqui que, ao discutirmos masculinidades, estamos no campo de estudos, discussões e práticas baseadas em uma perspectiva de gênero e em uma perspectiva feminista. Eu acredito que a expressão masculinidade tóxica seja simples e direta e o senso comum conseguiu se apropriar dela com facilidade, abrindo espaço para que o debate feito é que de fato afetada. E diante dessa expressão, muitas vezes fica defensiva devido a compreensões enrijecidas sobre o termo.
KAREN: Como a masculinidade pode ser tóxica no cotidiano e para a saúde das pessoas?[ONIKA]: Entendo que o termo “masculinidade tóxica” contextualiza impactos perversos do machismo e da busca de um ideal de masculino que se estabeleceu e se fortaleceu ao longo dessa nossa história. Nossa cultura machista vai delimitar que quanto mais o homem se afasta do universo feminino, “mais homem” ele será. É uma lógica binária simplista que, em termos práticos, inibe ou constrange o homem de usufruir ou desenvolver potenciais sensíveis e práticos que nossa sociedade estimulou nas mulheres. Nesse sentido, as discussões sobre masculinidade tóxica trazem o foco para as consequências negativas trazidas aos homens e também às mulheres causadas: em primeiro lugar, pelo afastamento dos homens de práticas e comportamentos relacionados ao sexo e ao gênero feminino; e segundo, pelo engajamento dos homens em comportamentos cultural e socialmente definidores do “ser homem”.
KAREN: Que outras características desse tipo de masculinidade podem ser prejudicais aos homens?[ONIKA]: Eu acredito que outros aspectos negativos do processo de socialização masculina são o estímulo a comportamentos de risco como prova de masculinidade, o afastamento das práticas de cuidado e convivência no ambiente familiar e doméstico, a ausência de contato ou negação de emoções que conotem fraqueza ou fragilidade pois “homem não chora” e a supervalorização da honra masculina. Práticas de masculinidade baseadas em tais preceitos possuem, de fato, implicações prejudiciais na relação do homem consigo próprio e com o outro.
KAREN: Eu aprecio o seu pensamento! Concordo com isso também. Sobre a origem do comportamento da masculinidade tóxica, eu acredito que a história patriarcal e colonialista que embasou e ainda embasa nossa organização de gênero e, com isso, muitas práticas e valores culturais são bases do que hoje temos como aspecto da masculinidade.
[ONIKA]: Interessante pensar que a toxicidade, ou seja, o prejuízo trazido por esse padrão de masculinidade, pode vir tanto do cumprimento de algumas práticas e valores como agressividade, impulsividade, comportamentos de risco, como também pela impossibilidade de o homem cumprir com um ou mais dos padrões inflexíveis estabelecidos provedor principal, heterossexualidade, virilidade, autocontrole contínuo.
KAREN: Você acha que é possível modificar esse tipo de comportamento?
[ONIKA]: Penso ser possível modificar ou dar alternativas às pressões exercidas pela masculinidade tóxica discutindo-se e desmistificando aspectos da masculinidade hegemônica que são ou podem ser prejudiciais aos homens. Isso faz nossa compreensão de homem hegemônico ser composta pela figura do homem adulto jovem, branco, financeiramente independente, heterossexual. Outros aspectos também podem emergir como reguladores da hierarquia entre homens, a depender dos grupos ou indivíduos com que o homem entre em contato e das subculturas em que está inserido: renda financeira, cargo no trabalho, escolaridade, ter ou não filhos, frequência da atividade sexual, aparência física, exibição de certa agressividade.
KAREN: E como os padrões de masculinidade reagem ao empoderamento feminino? Nesses últimos dias, você lançou um single que fala sobre isso! Empoderamento, racismo. Qual a sua opinião sobre? [ONIKA]: Karen, as conquistas e os questionamentos trazidos pelo movimento feminista e a inserção das mulheres em espaços públicos, de liderança e de poder abalam a lógica binária de organização dos sexos e gêneros, uma vez que a subvertem. A inserção da mulher no mercado de trabalho, sua autonomia reprodutiva e sexual, seu posicionamento em termos políticos ameaçam a polaridade imaginária e relativamente ‘segura’ que separaria as práticas masculinas daquelas consideradas femininas. A ascensão da mulher, por exemplo, a espaços públicos de trabalho, como chefia ou parte de uma equipe, é compreendida por muitos como uma ameaça ao domínio masculino dos espaços de poder, ou mesmo como um fator prejudicial para o desempenho profissional. No contexto, ainda que não necessariamente como regra, situações de intolerância, assédio e desrespeito configuram-se como violências de gênero que objetificam a mulher e menosprezam sua competência enquanto trabalhadora. Entende?
KAREN: Sim! Super entendo. Nós que somos mulheres passamos por diversas coisas! E ainda temos que passar por essa objetificação. É triste. Mas como a masculinidade impacta sobre a violência doméstica e de gênero?
[ONIKA]: Da mesma forma que a perspectiva de “transgressão às regras” advinda de novos posicionamentos e posições da mulher nos espaços públicos de poder pode incorrer respostas violentas, em um contexto doméstico, posicionamentos da mulher, como esposa ou mãe, que não cumpram com os desempenhos de gênero tradicionalmente esperados podem também implicar em conflitos e violência. Apesar de parecerem extremamente banais, é muito comum as explicações trazidas por autores de agressões contra parceiras e mesmo feminicídios englobarem ponderações sobre “desobediência”, “descumprimento de regras”, “incompetência” com as tarefas doméstica ou na maternagem, “ciúmes”, descontentamento com o “rompimento da relação” ou com o novo relacionamento da “ex-parceira”. Nesse sentido, mulheres que desafiam os preceitos tradicionais de gênero que regem normas culturais de casamento ou outras formas de relacionamento tendem a ser percebidas como descumpridoras e mesmo ameaças para os homens que têm seu “ser homem” definido em oposição ao “ser mulher”: “se agora elas ocupam lugares como o meu, quão homem sou eu?”; “se eu aceito que ela termine a relação comigo ou fale desse jeito comigo, que tipo de homem vão achar que eu sou?”. Para alguns homens, tais questões são insuportáveis.
KAREN: Você já passou por relacionamentos tóxicos? Quais são os sinais para perceber isso?
[ONIKA]: Nunca passei por isso. Mas não exclui o fato de que exista. Tive amigas que passaram por diversas situações. Relacionamentos abusivos geralmente estão associados com padrões enrijecidos e machistas de gênero, muitas vezes por parte dos autores de violência e das próprias mulheres que estão em situação de violência. Relacionamentos abusivos são comumente descritos como aqueles que em que não ocorreram violências físicas, mas a violência psicológica, moral e mesmo patrimonial ocorre e traz graves danos emocionais e socias à pessoa exposta. Entre os sinais mais comuns de relacionamentos abusivos estão comportamentos do abusador como: controle excessivo de comportamentos (senhas de redes virtuais e celular, locais que frequenta e companhias; normas rígidas sobre roupas, restrições de contatos sociais, de atividades em grupo e individuais; críticas e menosprezo de habilidades e aparência, ameaças contra a parceira e chantagens emocionais como suicídio, abandono. Diante dos efeitos perversos do relacionamento, a pessoa vítima desse tipo de violência muitas vezes está esgotada emocionalmente, podendo desenvolver distúrbios emocionais e mesmos fisiológicos devido ao estado de estresse, tristeza e ansiedade gerados. Por essa razão, importante conseguir suporte terapêutico profissional visando fortalecimento pessoal, da autoestima, construção de mecanismos de proteção individuais, sociais por exemplo o suporte familiar e de amigos e da rede local como contato de delegacias e serviços de proteção.
KAREN: E quais são os caminhos para podermos construir masculinidades mais saudáveis?
[ONIKA]: O machismo fragiliza todo mundo. Coloca o homem mais em risco, faz com que ele não se cuide e o trava na hora de se expressar. Quando o homem se permite a isso, ele percebe que tem benefícios e consegue se dar ao direito de exercer e se apropriar de lugares e comportamentos que, pelo machismo, seriam “femininos” e por isso ruins. O mais bacana é isso: conseguir se apropriar do que as pessoas falam que é masculino ou feminino, sendo homem ou mulher, porque isso não faz diferença nenhuma, desde que seja um valor bom e positivo para você. As discussões sobre paternidade são o que temos hoje mais perto do que seria uma masculinidade saudável. É onde o homem vai ser confrontado com a necessidade de ser afetivo e se expressar de um modo amoroso. O processo de socialização do menino e do adolescente não pede isso. Ele tem que “caçar”: caçar o que fazer, caçar mulher, caçar briga. A amorosidade não está ali. Aparece um pouco no contato com a mãe, menos com o pai, e pode surgir se ele se colocar no lugar de um pai afetivo quando ele for pai. Eu acredito que uma masculinidade saudável passa por uma revisão do que de fato pode somar para o homem enquanto pessoa, cidadão, parceiro e pai, em termos de qualidade de vida, sem que isso prejudique o outro ou a outra.
KAREN: Essa entrevista foi enorme e muito produtiva! Nós gostaríamos de agradecer a sua presença hoje na nossa rádio. E aproveitar o momento para lhe convidar mais vezes! Para conversarmos de outros assuntos também. Muito obrigada por vir! Agora vamos ouvir o novo single da rapper, Futuristic Woman!!!
Confira o link abaixo para ouvir a música:
mdseason1.boards.net/thread/212/onika-stallion-futuristic-woman
[DIVULGAÇÃO PARA FUTURISTIC WOMAN BY ONIKA STALLION]
mdseason1.boards.net/thread/212/onika-stallion-futuristic-woman
[DIVULGAÇÃO PARA FUTURISTIC WOMAN BY ONIKA STALLION]