Post by onikastallion on Sept 17, 2020 15:29:30 GMT -5
ONIKA STALLION CONVERSA SOBRE O FEMINISMO NA BOOM 97.3 FM
Nesta noite, a rapper Onika Stallion foi convidada à comparecer aos estúdios de transmissão da rádio Boom 97.3 FM, para debater sobre o feminismo. A artista que está em processo de divulgação do seu novo single, retornou aos holofotes com um objetivo: debater causas importantes/militar. A entrevista foi mediada pela Keke. Confira abaixo a conversa:
KEKE: Boa noite à todos os ouvintes! Hoje conversaremos com a artista que retornou do seu hiatus prolongado! Onika Stallion, seja bem vinda!! Hoje também estaremos debatendo sobre o feminismo. Como você está?
[ONIKA]: Boa noite! Estou muito bem e você? Obrigada pelo convite!!!
KEKE: Estou bem também. Vamos começar a nossa entrevista. Além da agressão física, a violência de gênero se processa de outras formas, mas nem sempre elas são encaradas como tal. Quais são essas outras maneiras?
[ONIKA]: Estamos em um processo constante de tentar educar a população. A lei do feminicídio é recente e muitos não a entendem, não veem que várias mulheres (entre 10 a 15 por dia) são mortas por serem mulheres. Ainda há muitos homens que não acreditam em uma mulher quando ela diz ter sido estuprada, e, no caso da violência doméstica, ainda impera a máxima da “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”. Ou seja, se mesmo em casos óbvios de agressão física há pessoas que não encaram essas agressões como violência de gênero, imagine outras que são mais sutis. Há atitudes que sequer são consideradas violências por grande parte da sociedade, mas que fazem parte do cotidiano e funcionam como agressões. Há ainda a violência patrimonial, como controlar o dinheiro ou propriedade de uma mulher. E, num país que condena mulheres, em especial as pobres e negras, à morte em decorrência de abortos clandestinos inseguros, o controle dos direitos reprodutivos vale como violência. Além disso, há atitudes que não são vistas como violências, mas não deixam de ser. Um exemplo é o jeito como a maioria dos homens se senta nos assentos do transporte público, com as pernas bem abertas, ocupando um espaço que não é seu.
KEKE: Que estratégia uma pessoa pode adotar para identificar e não reproduzir a violência de gênero? Inverter os papéis para analisar a situação?
[ONIKA]: Não é fácil, realmente exige todo um esforço de desconstrução. Às vezes inverter os papéis pode ser uma saída, mas há que se tomar cuidado para não cair nas falsas simetrias. Por exemplo, o caos que a pornografia da vingança pode causar na vida de uma mulher não é comparável à divulgação de um vídeo de um homem fazendo sexo. Porém, no caso das ofensas, tentar inverter os papéis pode funcionar. Quando queremos xingar mulheres, usamos termos que se referem à sua sexualidade (vagaba, piranha, vaca, galinha, vadia, malcomida) ou à sua aparência (mocreia, dragão, baranga). Esses termos não são unissex. Não existe piranho ou barango. Isso quer dizer que temos centenas de termos ofensivos para atacar a sexualidade e a aparência das mulheres, e a falta de termos masculinos indica que não julgamos ou condenamos homens por serem sexualmente promíscuos ou fora do padrão de beleza. A maioria das pessoas mal pensa nisso. É só quando analisamos um discurso ou uma situação que podemos identificar a violência contida nesse discurso ou situação. Tenho um aluno na faculdade que disse que começou a identificar atitudes machistas nele depois que passei a ser sua professora. Ele não é machista, mas notou que costumava interromper mulheres e falar mais do que elas em rodas de conversa com amigos, por exemplo. Fiquei feliz quando a namorada dele, que não é minha aluna, disse que ele havia alterado pequenas atitudes, mas que fazem diferença.
KEKE: Por que nós mulheres somos tão odiada pelo agressor machista?
[ONIKA]: Eu acredito que quando o agressor causa mutilações, ele geralmente escolhe órgãos que identificam a vítima como mulher, como seios e vagina. Homens que batem em mulheres também alvejam partes sexuais ou que geram filhos. Talvez a mulher, naquele momento, não esteja individualizada, mas represente todo o ódio que o agressor sente pelas mulheres. Assim como uma mulher que finalmente arranja forças para se separar do marido em um relacionamento abusivo não está apenas rompendo com ele, mas com todo um modelo de vida que lhe foi ensinado (de que o mais importante na vida de uma mulher é ter um homem), o homem expõe toda a misoginia que aprendeu com a religião, com a mídia, com os pais, com a escola (que não aceita falar em questões de gênero), ao matar a esposa, namorada ou ex. Ele deixa claro que prefere a parceira morta a vê-la com outro homem.
KEKE: As mulheres são as maiores vítimas da violência doméstica e familiar. A impunidade do homem agressor é um dos principais fatores que alimentam essas trágicas estatísticas?
[ONIKA]: O dado mais alarmante que conheço, que aponta para uma pandemia, é o da ONU [Organização das Nações Unidas]: de todas as mulheres mortas no mundo, 38% são assassinadas pelo parceiro, atual ou ex. O parceiro que deveria amá-la e, sob a própria ótica do patriarcado, protegê-la (de outros homens), é o que a mata. O Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídios no planeta, mas este é um massacre universal, que ocorre também em países ricos. Não sei se a impunidade do homem agressor é um dos principais fatores para explicar esses dados. Penso que, mais do que isso, é a visão que o homem tem da mulher como sua propriedade. O homem crê que pode fazer com sua parceira ou ex o que quiser, inclusive matá-la.
KEKE: Qual a importância do feminismo?
[ONIKA]: Sem dúvida o feminismo é necessário e urgente. Uma das faces mais perversas do machismo é desqualificar a luta das mulheres. A quem interessa que as mulheres tenham vergonha em se declarar feministas e a lutar por direitos iguais? Vemos propostas no Senado que visam transformar acusações falsas de estupro em um crime tão hediondo quanto estupro. Vemos avançar um projeto que determina que a vida deve ser inviolável desde a concepção. Caso aprovada, ela abre brechas para proibir o aborto em todos os casos, até na gravidez decorrente de estupro e quando a gestante corre risco de vida (o projeto é tão retrógrado que pode acabar, por tabela, com inseminação artificial e pesquisas com células-tronco embrionárias). Em alguns sentidos, estamos regredindo. Hoje temos uma maior divisão de brinquedos por gênero, por exemplo, do que tínhamos meio século atrás. Os números de estupro e feminicídios não vêm diminuindo. Ainda temos uma representatividade política baixíssima no Congresso. Ainda ganhamos menos ao exercer a mesma função dos homens, mesmo que agora tenhamos maior escolaridade que eles. E, mesmo que tenhamos ocupado vários espaços, os homens ainda se recusam a fazer a sua parte nas tarefas domésticas e na criação dos filhos. Um dos meus sonhos é que o feminismo realmente se torne obsoleto um dia, mas sei que isso não acontecerá na minha vida.
Confira o link da canção que já está disponível nas plataformas digitais:
mdseason1.boards.net/thread/212/onika-stallion-futuristic-woman
[DIVULGAÇÃO PARA FUTURISTIC WOMAN BY ONIKA STALLION]
KEKE: Onika, infelizmente a nossa entrevista chegou ao fim. Nós gostaríamos de agradecer a sua presença hoje aqui conosco. E para finalizar com chave de ouro, vamos ouvir o novo single da artista: Futuristic Woman.
Confira o link da canção que já está disponível nas plataformas digitais:
mdseason1.boards.net/thread/212/onika-stallion-futuristic-woman
[DIVULGAÇÃO PARA FUTURISTIC WOMAN BY ONIKA STALLION]