Post by onikastallion on Sept 30, 2020 15:19:49 GMT -5
ONIKA STALLION EM NOVA ENTREVISTA A RÁDIO MEGA 97.9 FM
Na edição desta noite, a rapper Onika Stallion foi convidada para participar de um debate sobre o feminismo na rádio Mega 97.9 FM. A artista conversou com a radialista Olivia Buston, que expressou suas opiniões durante o diálogo. Confira abaixo a entrevista completa:
OLIVIA: Boa noite a todos os ouvintes da nossa rádio! Sejam bem vindos à mais uma programação musical. E hoje teremos um debate muito especial sobre o feminismo. E ninguém melhor para completar este assunto: Onika Stallion. Que retornou pro mundo musical, depois de um longo tempo ausente. Seja bem vinda!!!
[ONIKA]: Olá! Olá a todos os ouvintes, como vocês estão? Eu estou ótima, e muito feliz. Queria aproveitar este momento para agradecer a produção da rádio pelo convite. E por você também Olivia! Que bom que poderemos conversar sobre! Como você está?
OLIVIA: Nós que agradecemos a sua participação! Estou muito bem, mas vamos começar a nossa entrevista, pois o tempo passa voando! E você está cheia de compromissos! Então, Onika... Como você vê o feminismo como caminho para uma sociedade menos violenta e mais justa?
[ONIKA]: Veja bem amiga. O feminismo tem contribuições muito importantes, mas acredito que precisamos dar um próximo passo para alcançar a igualdade que as feministas desejam. Acredito em outra posição, em um pós-feminismo. Prefiro pensar a questão da mulher sob a perspectiva de um novo humanismo. Assim, as possibilidades para chegar onde desejamos são ampliadas. A questão de fundo do feminismo é desconstruir a ideia da mulher criada historicamente. É mostrar que, no fundo, isso está muito mais ligado a uma construção social do que à natureza feminina. Quando a Simone de Beauvoir fala em seu livro que ninguém nasce mulher, mas torna-se, o objetivo é mostrar que o que importa são os seres humanos e não esses construtos culturais. Ela se tornou uma feminista mais tarde, dada a necessidade que percebia politicamente de ocupar um lugar. Mas, Simone de Beauvoir era sobretudo uma humanista.
OLIVIA: E como nós, mulheres, podemos entender o pós feminismo?
[ONIKA]: Como a superação de um lugar marcado. O feminismo lutou tanto tempo para desconstruir o feminino que acabou reforçando-o de alguma forma. Quando marca a posição da mulher, é uma contradição. O que buscamos é uma equidade. Ser mulher não é demérito e nem mérito, é uma questão da sexualidade humana e não diz de tudo o que sou. Tem uma frase muito bonita da Judith Butler (filósofa norte-americana) que diz o seguinte: “Ser mulher não é tudo que alguém é.” Ser homem ou mulher não diz nada sobre uma pessoa no sentido de que não existem duas mulheres iguais, não existem dois homens iguais. O sexo não diz da trajetória de cada um. Por isso o pós-feminismo.
OLIVIA: Mas ainda existem desafios imensos, como o feminicídio e a desigualdade no mercado de trabalho. O feminismo não seria um modo para alcançar a igualdade, a paz social?
[ONIKA]: O pós-feminismo vai tratar de todas essas questões com outros métodos. Eu estudei a história das mulheres desde a Idade Média e elas sempre lutaram por autodeterminação. Nem sempre foram feministas. Esse termo vai surgir no contexto da revolução industrial, em 1872, e está vinculado ao marxismo. Marx tinha uma concepção que é muito interessante. Ele diz que a opressão da mulher só seria superada quando ela se emancipasse economicamente. Ele tinha essa perspectiva materialista econômica.
OLIVIA: Mas qual o sentido? Faz sentido?
[ONIKA]: Claro amiga! Faz, sim. Essa ideia do empoderamento é muito interessante, porque é diferente da vitimização. Mas, se por um lado, o marxismo faz muito sentido na questão da superação econômica, a forma de fazer isso foi muito violenta. Marx mesmo diz que a fraternidade e a igualdade nunca nos ajudaram em nada. Ele entendia que a superação viria com o uso da violência e o feminismo de alguma forma herdou essa prática autoritária.
OLIVIA: Há vozes contemporâneas de defesa da mulher mais flexíveis sob o ponto de vista da inclusão?
[ONIKA]: Nem tudo pode ser chamado de feminismo. O feminismo se tornou um termo guarda-chuva, com muitos braços. Mesmo o conceito estando no senso comum, muitas vezes é frágil o entendimento do que é o movimento. Qualquer tentativa de defesa da mulher é vista como feminismo. Até que ponto podemos usar o mesmo nome para coisas novas? Por que temos de usar um termo que tem uma marcação político ideológica que ainda persiste? Esse lugar mais flexível, que ainda não tem nome, é um novo humanismo para pensar uma série de questões, envolvendo justiça e equidade.
OLIVIA: O que Futuristic Woman, seu single, traz de referências sobre esses conceitos?
[ONIKA]: Diversas referências. Principalmente para nós, mulheres negras. Dentro do vídeo, existe inúmeras mensagens subliminares, na qual não revelei. Algumas delas talvez seja contada mais tarde. Mas, voltando. Eu quis trazer a exaltação feminina, mostrando o empoderamento, sem sair da minha zona de conforto que é o rap/hip-hop. Optei por construir uma identidade visual também, não apenas lançar singles avulsos. E é muito importante esse apoio de todos, pois disponibiliza a visibilidade de diversas mulheres.
OLIVIA: Não existem algumas caricaturas, alimentadas ao longo do tempo?
[ONIKA]: Claro, de fato existem inúmeras caricaturas de que existiria um ódio contra os homens, uma misantropia. Mas, se há caricaturas, existe também um fundo de verdade quanto aos métodos violentos de coerção dos outros, que eu considero, não como métodos empáticos, mas sim antipáticos. O próprio lugar de fala, que é uma estratégia muito interessante de inclusão das minorias, acabou sendo usado também como exclusão de fala dos demais, para emudecer alguns. Então, um homem não pode falar sobre a causa feminina, como se não fosse empático a ela. Se eu quero pensar em uma sociedade onde é preciso discutir a cultura do estupro, o feminicídio, a divisão das tarefas na família, eu preciso chamar os homens para essa conversa. Eu já participei de inúmeros debates nos quais as feministas diziam para mim que não, que esse é um lugar de fala da mulher. Se eu quero pensar em uma sociedade na qual o pano de fundo é a relação de homens e mulheres, não posso excluir um dos lados. A própria frase: “Todos temos de ser feministas”, mesmo sem entender o movimento sócio histórico do feminismo e suas marcações ideológicas, tem um cunho autoritário. O fato de eu não ser feminista não quer dizer que eu não lute por equidade. O feminismo é uma linha ideológica dentro dos movimentos de defesa da mulher. Existem vários outros.
OLIVIA: Em sua opinião, quais os principais legados do feminismo?
[ONIKA]: Eu acredito que o sufrágio. As mulheres poderem votar e se eleger de forma ampliada. Outro legado importantíssimo está ligado à violência contra a mulher, ter transformado o que é privado em uma questão pública: em briga de marido e mulher mete-se, sim, a colher.
OLIVIA: E suas limitações?
[ONIKA]: Até que ponto os movimentos indenitários não estão caminhando em círculos, falando para si mesmo. Há um limite de avanço. À medida que não conseguem gerar a empatia necessária para a transformação, criam o barulho, geram a pauta. Mas, as pessoas serão sensibilizadas por essa pauta? Ganhar eleição é definitivo e necessário. É um absurdo, por exemplo, o Brasil ser sub-representado politicamente. Ter mulheres na política é uma questão central para representatividade. Estamos precisando de um novo humanismo. O que vamos fazer com todo aprendizado político, fecharmo-nos em grupos de vingança e de ressentimento social? Precisamos de métodos empáticos, para alcançar a equidade.
OLIVIA: Como vê a violência diária praticada contra mulheres?
[ONIKA]: Precisamos ter leis mais rigorosas. Pensar que sociedade é essa que produz homens que pensam poder abusar de uma mulher. Mas não adianta debatermos só entre as mulheres. Todos têm de lidar com esse homem, até mesmo outros homens. Não dá para fechar a discussão em um grupo, quando a intenção é ampliar para toda a sociedade.
OLIVIA: Como você vê a questão do cavalheirismo?
[ONIKA]: Desde a Idade Média as mulheres foram, muitas vezes, capazes de inverter o jogo a seu favor. O cavalheirismo é um exemplo. Trata-se de um código de conduta que foi criado por uma mulher, durante a Idade Média, a princesa Leonor de Aquitânia. Ela usou a fragilidade a favor das próprias mulheres. O cavalheirismo foi criado para ensinar os homens a tratarem as mulheres em uma sociedade na qual elas eram vistas como objetos, apanhavam, sofriam. Foi uma estratégia interessante, pois na Idade Média não havia leis que protegessem as mulheres. O cavalheirismo se multiplicou entre a nobreza e depois pelas classes mais simples, dando a elas uma condição de proteção.
OLIVIA: Você já enfrentou algum preconceito de gênero?
[ONIKA]: Amiga, quem não né?! Inclusive contra uma mulher que não tem marcação feminista para trabalhar o feminismo. Durante meu curso tive de trocar de orientadora porque ela queria que eu tivesse uma posição que eu me recusei a ter. Essa questão do EUA, de ter posição marcada, é muito chata, especialmente para o cientista social, que tem o papel do esclarecimento e não de uma catequese ideológica. Mas, ser mulher é ambivalente. Se tive dificuldades, eu também tive vantagens por ser mulher.
OLIVIA: Para você, o que é ser mulher nos dias de hoje?
[ONIKA]: É tenso. A mulher de hoje está mais ciente das suas possibilidades, mas também tem mais clareza dos entraves que a impedem de progredir. Por isso, ser mulher hoje é mais tenso, na medida em que essa consciência também motiva embates e desgastes, tanto com os mais conservadores, como com as instituições, que sempre caminham e mudam mais lentamente que a sociedade em geral. Mas não vejo essa posição com pessimismo. Esse enfrentamento é um indício da nova posição da mulher no jogo de forças. Se hoje a mulher ainda tem de afirmar-se, no futuro isso deixará gradualmente de ser necessário. A “mulher por vir” tende a desvincular-se da ideia de “ser mulher”, para ser uma pessoa com uma trajetória singular e ao mesmo tempo humana. É o que chamei em minha tese de “individuam-no”. O que é levado em conta não é o gênero, mas as escolhas, a capacidade e o esforço pessoal.
OLIVIA: Eu gostaria de agradecer a sua participação hoje aqui conosco, mas nossa entrevista chegou ao fim. E para finalizar com chave de ouro, vamos ouvir o single de retorno da rapper. Com vocês: Futuristic Woman!!!
Confira abaixo o link da música que já está disponível em todas as plataformas digitais como iTunes, Spotify, Apple Music, Amazon Music, Google Play Music, Deezer e Youtube.
mdseason1.boards.net/thread/212/onika-stallion-futuristic-woman
[DIVULGAÇÃO PARA FUTURISTIC WOMAN BY ONIKA STALLION]
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