Post by onikastallion on Oct 8, 2020 10:58:14 GMT -5
ONIKA STALLION EM ENTREVISTA À RÁDIO 106.9 FM KROC
Na edição desta semana, a programação musical trouxe uma convidada especial para um debate importante. Onika Stallion esteve presente para complementar o debate, a rapper expressou sua opinião junto com a radialista Blanca Kikes. Confira abaixo o debate:
BLANCA: Boa noite ouvintes! Hoje o debate terá uma convidada especial para conversarmos sobre feminismo. Onika Stallion está presente nos nossos estúdios! Seja bem vinda, agradecemos a sua disponibilidade para dialogarmos sobre isso! Como você está?
[ONIKA]: Boa noite!! Estou bem! Quando eu recebi o convite, eu aceitei imediatamente. E depois que me falaram que você seria a radialista da entrevista, fiquei mais feliz ainda! Obrigada! Vamos começar?
BLANCA: Oh! Fico muito feliz. Vamos, o tempo é curto! Passado mais de um século do surgimento do movimento feminista, por que essa palavra volta a incomodar? O aumento dos ataques é sinal de fortalecimento do movimento?
[ONIKA]: Obviamente! Os ataques são sinal claro do fortalecimento do movimento feminista nas últimas décadas. Estamos no que chamamos de Quarta Onda Feminista, iniciada nessa década e marcada por movimentos como “Ni Una Menos”, “Me too” e outras vinculadas ao “empoderamento” feminino. O avanço dessa onda tem uma projeção bastante forte, especialmente pelo desenvolvimento acelerado das tecnologias de comunicação e da interação no mundo digital. Enquanto o movimento feminista cresce, aumenta sobremaneira a reação a ele. Uma das estratégias da reação, até por carecer de sofisticação e argumentos consistentes, é se voltar contra a palavra feminista. Deste modo, fazem uma campanha de estigmatização da palavra para que as pessoas sintam vergonha ou fiquem constrangidas ao serem identificadas como feministas. Para as pessoas que tenham dúvidas sobre a palavra feminista, digo que ela é uma palavra que vem sendo usada desde o final do século 19, especialmente difundida a partir do crescimento do movimento sufragista que defendia os direitos políticos das mulheres, principalmente o direito de votar. Ela é uma palavra desprendida de ideologia? Não. Nenhuma é. A ideologia que está por trás da palavra feminista é a do anti patriarcado e também a da democracia em seu sentido amplo, da inclusão de todos.
BLANCA: Estaríamos hoje em um dos melhores momentos ou em um dos piores da história para ser mulher?
[ONIKA]: Se formos pensar em termos de humanidade, certamente estamos em um melhor momento para ser mulher. O avanço do conhecimento, da experiência e da tecnologia provem uma vida mais segura em termos de saúde, por exemplo. O câncer de mama e outras doenças que afetam especificamente mulheres, hoje, são mais cautelosos e matam menos do que há algumas décadas, quando diagnosticadas precocemente. Em termos políticos também houve avanços, há menos de 100 anos não podíamos votar no Brasil e muito menos sermos eleitas. Há algumas décadas também não podíamos nos divorciar, trabalhar em determinados setores, frequentar certos cursos universitários.
BLANCA: Os mecanismos de buscas na internet sugerem que o feminismo é doença, é coisa de quem não tem o que fazer. Na era virtual, a desinformação e a deturpação são estimuladas contra o termo?
[ONIKA]: A era virtual é a nossa era. É a nossa praça pública. É nessa praça que louvamos, mas que também apedrejamos. Expomos aquilo que achamos bonito e atacamos aquilo de que não gostamos, aquilo que queremos destruir. O feminismo é um dos alvos preferenciais no centro do circo. As feministas são sujas, promíscuas, feias no sentido de não serem admiráveis como algo belo. São estridentes, são histéricas, desequilibradas, loucas, bruxas. Para essa sociedade machista, o exemplo de sucesso geralmente está associado a uma imagem de um homem branco, meia idade e bem vestido como um executivo ou bem sucedido homem de negócios. Já o fracasso está associado às mulheres, principalmente as negras, que devem continuar “servindo” mesa e cama das famílias exemplares.
BLANCA: O feminismo é um movimento de esquerda? De onde surge essa aproximação?
[ONIKA]: O feminismo não é um movimento de esquerda, embora boa parte daqueles que se identificam com a esquerda também se identifiquem com o feminismo. Vamos pegar uma das minhas preferidas sufragistas lá do Brasil, Bertha Lutz. Ela foi uma pessoa muito importante, não só para vocalização das demandas feministas do início do século 20, como para a prática militante de buscar caminhos para a conquista dos direitos das mulheres. Ela não era uma mulher de esquerda, não fez parte de nenhum partido ou agremiação vinculado à pauta da luta pelo socialismo ou o comunismo, por exemplo. As sufragistas, geralmente mulheres de classe média e brancas, defendiam o direito ao voto descolado de uma luta mais geral de emancipação humana com relação ao capitalismo. Já as socialistas, como a alemã Clara Zetkin e a russa Alexandra Kollontai, diziam que de nada adiantava conquistar o direito ao voto se mulheres pobres continuassem esmagadas pelo capitalismo. Digo isso para exemplificar que dentro do movimento feminista há todo tipo de mulheres do espectro político, das que se identificam com uma pauta mais liberal, capitalista, às que se identificam com pautas de esquerda, socialistas, e até mesmo mais radicais, como anarquistas. Nesse sentido, o movimento feminista é bastante eclético e abrangente. O que identifica todas as correntes internas é a percepção de que vivemos em um mundo patriarcal.
BLANCA: Como um movimento que prega a igualdade de direitos, quais os benefícios do feminismo também para os homens? E o machismo, esse sim, é uma doença? Como se relaciona com as estruturas de poder dentro das sociedades atualmente?
[ONIKA]: O machismo não é uma doença. Assim como o machismo não é o reverso ou a outra face da moeda do feminismo. O machismo é a expressão cotidiana de uma sociedade patriarcal em sua estrutura. Na sociedade patriarcal, ser pai, no sentido do exercício da paternidade não é mérito. É demérito. Explico. Cabe ao pai ser o provedor, o mantenedor, o guardião, mas nunca o cuidador, o educador. Na sociedade patriarcal, é bonito e louvável o homem forte fisicamente e trabalhador, que põe a comida na mesa da família, mas não é bonito e digno de elogio o homem que não trabalha para cuidar da casa ou homem que troca a fralda dos bebês, que faz o dever com as crianças. Esse homem é visto como fraco e afeminado e só vai ganhar rechaço, sarcasmo, hostilidade e ridicularização. Essa é só a parte aparente de uma sociedade estruturada através do patriarcado. Deste modo, um movimento que prega a igualdade de direitos, como o feminismo, traz, sim, muitos benefícios aos homens. Primeiro que humaniza as relações, propõe uma sociedade em que, independente de sermos pai ou mãe, somos essencialmente cuidadores das e dos pequenos que colocamos no mundo. É gente cuidando de gente. Quando vejo um menino de três anos com uma boneca bebê no colo, o que estou vendo? Um menino com o brinquedo errado na mão ou um ser humaninho brincando de cuidar de outro. O feminismo pode libertar os homens das amarras que também o prendem. Se sou homem não posso chorar, não posso errar, não posso fracassar, não posso me envolver emocionalmente e por aí vai todo um código machista que todo homem já cumpre desde antes de nascer. Ainda na barriga da mãe, seu futuro quarto vai ganhar as imagens, cores e brinquedos supostamente apropriados a um menino. Todos, homens e mulheres, só temos a ganhar com o feminismo no sentido de humanizarmos esse mundo, tornarmos ele um lugar de solidariedade, partilha, companheirismo, compreensão, igualdade de direitos e possibilidades. Se a vida tem um lado que é fardo e sobrecarga, não seria melhor carregarmos juntos?
BLANCA: Que aula! Realmente, essa sua pausa foi muito necessária. Que bom que estamos vivendo na mesma época que você. Espero também que você continue abrindo portas para diversas mulheres. Que trabalho incrível, mas infelizmente chegamos ao fim. Vamos continuar a programação ouvindo o single da rapper: Futuristic Woman!!!
O single está disponível em todas as plataformas digitais como Spotify, Amazon Music, Deezer e outros serviços. Você também pode adquirir o single comprando no iTunes. Clique no link abaixo e escolha a sua opção preferida para transmitir a música:
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[DIVULGAÇÃO PARA FUTURISTIC WOMAN BY ONIKA STALLION]
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