Post by andrewschaefer on Dec 2, 2020 12:11:11 GMT -5
Nessa semana, a cantora e compositora romena Agatha Melina foi ao programa televisivo de variedades The Graham Norton Show, transmitido em território britânico. A artista participou de uma entrevista onde explicou em detalhes sobre o seu terceiro álbum de estúdio, o Forget Me Not, comentando em detalhes sobre todas as faixas e explicando-as pacientemente. Ela aproveitou para apresentar o lead single da era, a música Blue Heart e a faixa Flowers, divulgando-as.
Graham: Boa noite, pessoal de casa! Estamos trazendo no palco do nosso programa desta vez a cantora Agatha Melina, de novo! Tudo bem, Agatha?
Agatha: Estou bem, sim, Graham. E com você?
Graham: Melhor agora te entrevistando. Muito bem, você veio aqui hoje para falar sobre o seu terceiro álbum de estúdio, não é?
Agatha: Isso mesmo, o Forget Me Not que saiu no mês passado.
Graham: Vou começar com uma pergunta bem simples então: por que esse nome?
Agatha: Enquanto eu escrevia o Forget Me Not, eu não sabia que nome dar a ele. Eu tinha essa ideia de flores azuis, representando a tristeza, desabrochando desde o início, já tinha referenciado isso em algumas músicas, mas confesso que não era o conceito principal naquele momento. Eu queria dar ao álbum o nome de Violets porque violetas, apesar do nome que diz o contrário, são as únicas flores azuis que eu conheço. Eu estava comentando com o Stefan sobre isso e disse que não queria usar esse nome pois a escrita e a pronúncia é muito parecida com a do meu álbum anterior, o Violence, isso ia ser bem chato... Então ele me mandou uma página da internet com vários nomes de flores azuis e eu fiquei surpresa com a quantidade de flores com essa cor porque até onde eu sabia o azul era a única cor que o solo não consegue produzir em plantas e tal, tem algo sobre isso, mas essa questão é muito complicada e não quero trazer pra cá. Eu fiz a minha busca até ter encontrado essa, forget-me-not, não-me-esqueças. A princípio eu não gostei porque eu gosto de álbuns com uma única palavra em seu título, mas que causem impacto, como Chaos, Violence, Inspire.
Graham: O que te fez mudar de ideia e adotar esse nome Forget Me Not?
Agatha: Enquanto navegava na web para descobrir mais nomes de flores azuis, eu descobri uma espécie de conto, que eu coloquei nas primeiras páginas do encarte do Forget Me Not, não sei se alguém leu. O conto dizia "Havia dois amantes andando pelo Rio Danúbio, na Alemanha. Eles encontraram flores azuis brilhantes ao longo da margem do rio e o homem pegou as flores para a mulher, mas infelizmente elas caíram e começaram a ser pisadas por outras pessoas que passavam pelo local. Ele disse a ela "não me esqueças". E a sua amada usou aquelas flores em seu cabelo até morrer."
Graham: É realmente um conto muito lindo.
Agatha: É por isso que a flor tem esse nome, é uma das histórias de origem. E quando eu vi essa história e a conexão que ela tinha com todos os temas do álbum, eu tive certa. Não me importava se você fosse três ou dez palavras, precisava ser aquele nome, precisava ser Forget Me Not. Eu fiquei um bom tempo na frente do meu computador pesquisando sobre essas flores para poder me familiarizar com elas. E eu vou explicar detalhadamente como essas flores se conectam tão bem com o álbum assim que eu falar um pouco sobre cada faixa individualmente.
Graham: Por que não começa agora? Vamos falar da primeira faixa do Forget Me Not!
Agatha: Claro! A primeira faixa é Flowers. Esse ano de 2020 me fez pensar em muitas coisas. Com esse vírus aí, tantas pessoas morrendo, me fez pensar na morte. Eu acho que eu fiquei realmente chocada com tudo isso e decidi escrever sobre quando a irmã daquele ator italiano morreu e ele teve que ficar com o corpo dela em casa durante três dias por causa da quarentena, ninguém estava saindo de casa. Eu fiquei imaginando toda a dor e todo o sofrimento, eu fiquei muito comovida. E inevitavelmente, para alguém que já passou por experiências do tipo outras vezes, acabei começando a pensar. Para ser sincera, Flowers foi uma das últimas músicas que escrevi para esse álbum, na mesma noite em que decidi que o título seria Forget Me Not, na verdade. Quando eu a compus, estava pensando sobre a primeira vez que eu tive contato com a morte. Foi num dia 06 de Novembro, no mesmo dia do lançamento do Forget Me Not, então a data foi muito importante para mim. Eu tinha onze anos de idade quando o meu pai morreu, e acho que quando você passa por uma experiência desse tipo tão cedo na vida, é impossível não ficar pensando sobre morte pelo resto dela. Eu era uma criança, já era velha o suficiente para entendê-la, mas não madura o suficiente para lidar com ela. Passar por essa perda na infância foi o gatilho para que eu começasse a trabalhar o assunto em mim mesma com o passar dos anos e é sobre isso que é essa faixa. Dói e sempre vai doer, mas depois que você compreende a dor, ela não te afeta tanto. Sobre esse verso do refrão "quando eu morrer, quero que me cubra em flores", essas flores representam suavidade, tranquilidade, justamente por já ter compreendido que é o que vai acontecer conosco cedo ou tarde. Tem outro verso, quando eu digo que acendo a vela que me leva à você, é sobre iluminar esse caminho que me leva à morte, ou seja, estar ciente dele para andá-lo, ou seja, viver, devidamente. Eu gosto dessa música porque ela cita o nome do álbum no final: forget me not. Um pedido para que não me esqueçam após eu morrer. Eu acho que isso vai ficar mais claro quando eu falar da última faixa, as coisas vão ir se conectando bem. Para a sonoridade de Flowers, eu quis apostar nesse rock gótico melancólico e orquestral, bem acústico, que passasse essa serenidade e uma atmosfera dark ao mesmo tempo. Espero ter conseguido atingir o objetivo, foi ótimo ter trabalhado com esse produtor Frank Akkerman no Violence e agora no Forget Me Not.
Graham: É uma letra linda e agora sabendo desse background eu compreendo melhor os detalhes.
Agatha: A segunda faixa é Titanium Walls, que também foi o segundo single. Essa música faria mais sentido onde ela está se eu não tivesse descartada uma faixa chamada Don't Cry, mas ela era muito pessoal e eu não queria me expor tanto como já estava me expondo, mas ela fazia a conexão perfeita entre os acontecimentos de Flowers e as consequências de Titanium Walls. Mas bem, Titanium Walls foi uma das primeiras músicas que escrevi. Eu tinha um esboço da letra, mas não queria cantar sozinha, então eu convidei o Stefan Lancaster. Ele aceitou assim que eu mostrei a letra, mas a gente acabou mudando bastante coisa e ficou linda, é uma das minhas letras preferidas do álbum e também recebi críticas que disseram que era a melhor música também, haha. Eu estou realmente orgulhosa do que eu e o Stefan fizemos ali. Uma das razões para eu ter o chamado para essa parceria é que ficamos muito próximos esse ano, criamos uma amizade verdadeiramente bacana e eu fico contente por isso, então como esse álbum foi fruto de uma série de pensamentos e reflexões que vieram a mim durante justamente esse ano, eu achei justo chamar alguém que foi importante para mim em 2020 para cantar comigo. Além de que, é claro, essa faixa também é bastante relatable para ele. Fizemos um duo incrível com isso. Mas explicando um pouco sobre a letra, Titanium Walls é sobre controle parental e problemas familiares, fazendo essa comparação com paredes de titânio as quais você não consegue escapar. Titânio é um dos metais mais duros e resistentes que conhecemos, e também um dos mais conhecidos por isso, então essa relação seria fácil de se assimilar, por isso a escolha do metal. Eu gosto dessa música porque o refrão vai se modificando a cada vez e vai progredindo, como se realmente estivéssemos demolindo essas paredes até que finalmente conseguimos pô-las para baixo de vez lá pro final da música e fugir, assim por se dizer. Acho que nem preciso dizer como a morte de uma pessoa tão próxima e importante na família desestabilizou as relações familiares, principalmente na minha casa, debaixo desse teto, então a música está bem onde está. Eu gosto que ela passa essa ânsia por liberdade, assim como algumas outras faixas do disco, então tudo está bem conectado e amarrado. Para a sonoridade, eu devo dizer que fiquei muito feliz de tocar piano ao lado do Stefan e ter toda essa produção gótica de fundo. Definitivamente, uma das minhas faixas preferidas, se não a preferida. Antigamente era Legacy, mas eu estou mudando de ideia, confesso, haha.
Graham: Eu adoro Titanium Walls, você escolheu muito bem o single e a parceria, está tudo no ponto!
Agatha: A terceira faixa do álbum é Rotten Tree. Ainda sobre o assunto de problemas familiares, mas tratando de uma forma diferente. É uma comparação com árvores genealógicas e um dos gatilhos sendo eu. Então, eu preciso cortar esse galho antes que me cortem. Isso é sobre cortar relações familiares e esse tipo de coisa porque às vezes podem ser bem tóxicas, como foram em Titanium Walls. É aquele tipo de sensação em que você não consegue se encontrar onde nasceu e precisa fazer algo novo, para não se sentir presa ali naquela árvore podre, pois dali não vai sair mais nenhum novo fruto ou flor, ou seja, ninguém mais vai florescer ou prosperar. Essa música vem com um rock mais lento e gostoso de se ouvir, eu acho interessante que ela é um pouco diferente das músicas anteriores mas na minha opinião consegue segurar o tranco e manter o álbum fluindo muito bem.
Graham: Eu consigo sentir o sentimento que você tinha quando escreveu Rotten Tree, é realmente muito pessoal.
Agatha: Explicando mais uma vez o conceito do álbum: é uma transição do preto e branco para o azul, ou seja, das minhas eras anteriores em que eu me baseei no preto e branco para essa nova fase na minha vida e na minha carreira. Por se tratar de uma transição, e não de uma mudança definitiva, eu ainda precisava ter elementos que referenciassem ao preto e branco e a esses tempos mais obscuros em que eu me sentia vazia. E é nesse contexto que vem essa quarta faixa, Shards. Essa música fala sobre todo esse sofrimento que eu já cantei tantas vezes e já passei tantas vezes. Eu escrevi Shards quando eu estava passando por uma crise de ansiedade, ainda esse ano, eu não pretendia colocar essa música no Forget Me Not, apenas escrevi por escrever, mas então eu percebi que ela havia ficado muito boa e que me ajudaria a ilustrar essa transição, já que eu ainda estou a fazendo na minha vida, não é como se eu já tivesse pintado tudo de azul, ainda estou pintando. Eu gosto do metal melancólico que essa faixa traz, é bem linear e me faz pensar bastante enquanto eu ouço.
Graham: Não é uma das minhas preferidas, mas tenho que concordar que o instrumental realmente faz pensar muito.
Agatha: Na sequência, temos a quinta faixa, Inner Hell, que não é muito diferente de Shards. Na verdade, eu escrevi essas duas músicas na mesma noite, quando eu estava passando pela mesma crise de ansiedade. Saíram as duas composições de dentro de mim. Eu tinha visto um vídeo no Twitter em que uma mulher falava sobre crises de ansiedade e sobre como era difícil passar por elas e eu me senti compreendida, sabe? Eu sempre tentei passar minhas crises para minhas letras porque achava que me sentiria melhor, mas eu realmente não me sentia e não sabia lidar com as coisas, mas esse vídeo me fez abrir o meu coração e eu consegui transcrever a minha ansiedade nessas duas músicas. Inner Hell vem depois de Shards porque não tem mais aquele pensamento de se machucar, é só não saber o que fazer. Ok, estou nessa situação péssima, mas o que posso fazer? Algo até muito similar a Earthquake, eu diria, já que era uma música que falava sobre se sentir sufocada sem poder fazer nada para mudar uma situação na qual você se sente péssima, mas o Chaos se desenrolou de uma forma completamente diferente do que o Forget Me Not e vocês vão entender como foi esse desenrolar já na próxima faixa. Enfim, Inner Hell segue com um metal sinfônico bem leve. Eu gosto dessa leveza que eu tentei passar em algumas músicas porque imagino uma pétala azul caindo e o vento a soprando e ela nunca cai no chão de tão leve que é, parece que vai caindo lentamente mas não cai. E é dessa força que eu gosto, nunca cair. Por isso, diferentemente do Chaos, eu soube não deixar essas coisas me derrubarem.
Graham: Agora estou ansioso! Conte mais sobre o desenvolvimento do álbum, então!
Agatha: E chegamos então nessa faixa que é tão linda e tão importante para mim, o lead single e sexta faixa do Forget Me Not: Blue Heart! Já cansei de explicar o conceito dessa música, mas contextualizada aqui eu acredito que fará toda a diferença. Blue Heart fala sobre pintar o mundo de azul, haha, já devo ter dito umas vinte vezes. É sobre liberdade, se permitir ficar triste, se permitir chorar, já que o azul é uma cor que é relacionada à tristeza. Em Blue Heart eu finalmente descubro e decido que o melhor a se fazer não é descontar em mim ou tentar superar as coisas, o melhor é sentir. Só nos permitindo sentir as dores do mundo, podemos entendê-las e seguir em frente. Uma relação que eu pensei agora é com o sistema imunológico do corpo. Se não ficarmos doentes, não temos como fortalecer o nosso sistema imunológico, e portanto, vamos ficar doentes mais vezes, precisamos ter contato com bactérias, com vírus, para criar a nossa defesa corporal. Se você se priva dos sentimentos, se priva da tristeza, quando ela vier, vai doer muito. Eu sempre fui uma pessoa com uma dificuldade absurda de chorar. Antes desse ano, a última vez que eu tinha chorado de deixar lágrimas derramarem foi quando o meu pai morreu. De outras vezes que quis chorar, meus olhos ficavam úmidos e até se formavam lágrimas no meu rosto, eu fazia barulho de choro e gritava com a cara afundada no travesseiro, mas não chorava, tudo ficava preso dentro de mim. Esse ano, eu finalmente consegui chorar quando aconteceu algo que por menor que tenha parecido, eu acho que já estava tão fragilizada que não aguentei. Chorar me fez tão bem que eu comecei a praticar mais isso e chorei mais vezes, eu realmente fiquei sensível, meu coração ficou azul. O instrumental dessa música, ao menos pra mim, apesar de ser mais animado, passa bastante essa sensação de liberdade, de leveza, de finalmente quebrar correntes e sair voando por aí. Não sei se todo mundo teve essa interpretação da produção musical, mas espero que sim pois foi a intenção. Quando você finalmente abre os olhos, respira fundo e deixa o vento bater no seu rosto e o seu mundo ser aos poucos colorido de azul, deixando para trás o preto e branco.
Graham: Uau. Isso é muito poderoso. Realmente, depois de tudo isso que foi visto nas primeiras letras, eu tenho certeza que Blue Heart passou a ter um significado ainda mais profundo do que já tinha. Agatha, você é brilhante.
Agatha: Hahaha, obrigada! Fico muito feliz que tenha gostado dessa forma.
Graham: Eu estou curioso para você continuar explicando o resto das faixas, mas precisamos dar uma pausa para o comercial agora. Se importa de cantar um pouquinho só pra fechar esse bloco do programa e depois voltamos com mais Forget Me Not?
Agatha: Claro que não, será um prazer cantar aqui!
Agatha canta Blue Heart e Flowers para o público que acompanha os vocais, animado, e logo em seguida começa o intervalo comercial.