Post by ggabxxi on Jan 18, 2021 16:30:37 GMT -5
Boa noite, meus demoninhos preferidos! Aqui quem fala é a Banshee e você está escutando o Banshee Radio! Pra você que está aqui pela primeira vez, eu estarei dando minha opinião sobre um álbum, ep, mini-álbum, single álbum ou qualquer tipo de projeto que tenha mais de uma música mas eu prefiro projetos mais longos afinal não faz muito sentido abrir um programa ao vivo para escutar só três ou quatro músicas... Enfim, eu postei uma enquete hoje há algumas horas no Twitter para escolherem entre o EP Furfur de Jack Mcdeer e o álbum Black Widow de Rose Carter. Então vamos ver qual projeto vocês escolheram... Black Widow! Então vamos lá, mas antes umas palavrinhas. Eu sei que a Rose tem muitos fãs então eu quero que vocês saibam que aqui eu falo minha opinião pessoal sobre o álbum e não necessariamente fatos então nem pensem em me xingar nos comentários que vocês não me conhecem, vocês não sabem como eu sou, quem eu sou, vocês nem moram onde eu moro, vai se foder todo mundo, vai tomar no meio do olho do cu caralho.
Como eu já disse, eu adorei o conceito visual desse álbum, o encarte dele é um dos mais bonitos que eu já vi. Rose, amor, você fica muito bem ruiva e vestida de preto. Mas aqui, o que importa é minha opinião sobre as músicas. Então, vamos à primeira faixa do álbum.
"Alone"
Bom, a melodia com certeza foi uma opção bem segura. Quer dizer, eu não tenho nem o que falar, é uma balada de piano, não tem erro. É boa, com certeza, na verdade eu diria que é ótima. Mas não tenho certeza se é isso que eu espero do pop hoje em dia, sabe? Nós estamos em 2020, chegou a hora de correr riscos, de mostrar pra algumas pessoas que a música pop NÃO É algo a ser subestimado. Rose com certeza tem todo o necessário, ela é talentosa, criativa e tem uma voz angelical mas pelo menos nessa música eu senti que ela se conteve, ela com certeza é capaz de nos entregar mais. Sobre a letra, eu gostei bastante de como ela foi corajosa ao escrevê-la. É amedrontadora, pelo menos pra mim, a idéia de se mostrar tão vulnerável, e essa é uma característica a se admirar. E também é de se admirar quando um artista fala tão abertamente sobre a podridão da mídia, sobre como ela é irresponsável diante de pessoas públicas, afinal, nós também temos direito a privacidade e uma saúde mental a ser preservada. Espero que pelo menos alguns dos paparazzi que fizeram Rose se sentir assim tenham sido demitidos. Eu gostei de algumas metáforas como "Quando a música para de tocar" mas algumas não foram bem construídas como "Um pacto que pode levar sua alma". Se ela está falando de um pacto com o diabo, ele não pode levar sua alma, ele LEVA sua alma, isso é um fato, todo o significado de um pacto com o diabo está em ele levar sua alma. Apesar disso, a música é boa considerando que é um pop totalmente convencional. O forte dela com certeza são os vocais, Rose estava bem segura cantando eles e talvez foi até por isso que o resto da música foi construído de uma maneira minimalista, para deixar todo o foco pra toda essa potência vocal. Rose tem muito talento e muita técnica vocalmente, isso ninguém pode tirar dela.
"Travelling Through The Stars"
Não! Rose, EU NÃO ACEITO ISSO. Os primeiros vinte e quatro segundos dessa melodia parecem uma projeção do paraíso. Tão minimalista e sentimental. E aí, veio essa batida de trap e interrompeu toda a imaginação de um épico grego em que eu estava me imaginando. Se você faz uma melodia boa como essa, que consegue arrancar emoções das pessoas, você NÃO PODE colocar uma batida de trap por cima! Isso foi um desperdício deprimente de uma sequência de notas belas. Fora isso, essa batida também estragou um pouco a linearidade sonora do álbum. Quando a música começou, eu pensei "nossa, é impressionante como ela conseguiu mudar o tom do album mas sem estragar a sequência da sonoridade" e eu tinha ficado realmente feliz, mas isso foi antes de a batida de trap começar. Rose, você tem um tipo de voz e um talento específicos, desculpa se minha opinião te chatear mas eu não acho que o trap seja o melhor caminho pra você. Continue no clássico e amado pop puro, é nele que você brilha. Sobre a letra, eu amei a ideia e amei como a música fala abertamente e sem filtros sobre a dependência química. Infelizmente, algumas pessoas ainda acham que dependência química é motivo de piada ou pior, de humilhação. Muitas pessoas não acreditam que a saúde mental de uma pessoa pública pode ser machucada. Rose foi forte por superar isso e ainda mais forte por compartilhar a experiência dela, fazendo com que muitas pessoas que se sintam constrangidas entendam que ninguém está imune a isso, nem mesmo uma diva pop gigante na indústria como Rose Carter. Se você estiver escutando, saiba que eu acredito em você, Rose. Agora, sob uma visão mais técnica e menos emocional sobre a letra, eu achei a estrutura bem construída mas algumas metáforas me parecem um pouco confusas, como a primeira estrofe e o último verso da segunda estrofe, "Eu gosto do peso do ar". Talvez a música tivesse um impacto maior se ela tivesse sido um pouco mais literal, mais "na cara" ao invés de amenizar os efeitos do vício com metáforas. Eu passei por uma situação parecida escrevendo Dope mas acabei deixando ela mais literal. Por outro lado, eu canto rock e Rose canta pop então eu até entendo que o público alvo dela talvez não aceitasse a música caso ela tivesse sido escrita descartando os eufemismos.
"Distorted Reputation"
Essa melodia é muito boa! Eu acho que ela teria sido uma ótima faixa para suceder Alone. Ela tem essa sensação meio nostálgica e simples, me dá uma sensação de conforto. E o fim da música com esses melismas dela e esse instrumental que parece ter saído direto de um filme antigo! Se Travelling Through The Stars foi a que eu menos gostei, essa provavelmente vai ser minha preferida do álbum. Eu gostei bastante da ideia da letra, é sempre bom colocar a mídia no lugar dela, e também gostei de como ela usou "música" como uma metáfora para falar sobre a vida não só dela mas de toda pessoa pública. Apesar disso, eu estou começando a achar o tema das músicas meio repetitivo... Eu já entendi como as pessoas tendem a ser desumanas com a Rose enquanto pessoa pública, mas também quero saber da Rose enquanto mulher por exemplo, entendem? Até porque muitos dos problemas que mulheres passam enquanto pessoas públicas são baseados em machismo. A construção da música é interessante mas é comum o suficiente para eu pensar nela como um tendência de artistas pop e não uma característica única de Rose.
"Witches"
Eu gosto de como essa música e Distorted Reputation se relacionam mas acho que, apesar de a ordem ter ficado boa em questão de melodia, em questão de letra talvez faria mais sentido se ela tivesse vindo antes. Bom, mas agora vamos pra música isolada. Eu amei esse instrumental, apesar de ele ter um tema militar, o que muitas vezes dá uma sensação de opressão, acho que isso foi trocado por uma sensação de força feminina principalmente porque a música é interpretada por três mulheres. Eu amo que mesmo nas partes mais calmas, é possível escutar alguma coisa e isso é sinal de uma produção muito bem pensada e executada então, parabéns produtores. Sobre a letra, eu amo como cada uma delas deu o seu toque na música sem deixar seus versos desconexos. Rose fala sobre a pressão midiática sobre mulheres, Williams fala sobre o racismo estrutural e sobre os tempos de escravidão e Brie fala sobre os privilégios sociais dos homens, três assuntos difíceis de se tratar em uma só música e mesmo assim, eles se encaixaram quase perfeitamente nessa música. Eu queria destacar algumas coisas: primeiro, Rose dialoga com uma pequena garota como alegoria à nova geração feminina, as meninas do presente e mulheres do futuro e isso é muito importante! É muito importante discutir certos assuntos e ensinar meninas a não aceitar certos comportamentos masculinos. Segundo: o fim da parte de Williams, em que ela fala “os demônios têm medo da sua escuridão”. Ela ressignificou a palavra “escuridão”, geralmente usada em sentido negativo, algo que é estruturalmente racista. Ela usou como qualidade algo que geralmente é visto como defeito. Terceiro: Brie toca no assunto de padrões, além de começar o verso dela com “linda garota” e eu gostei muito disso. Todas as garotas são lindas. E por último, eu amo esse conceito de usar bruxas queimando como uma metáfora para as injustiças que as mulheres sofrem na sociedade porque elas são um dos mais antigos ícones feministas, mulheres que aumentavam a própria qualidade de vida através da ciência e eram mortas por isso. Homens que faziam o mesmo eram considerados gênios! Quem sabe o primeiro Einstein não foi uma mulher queimada na fogueira?
“The Life Of A Celebrity”
A melodia é bem convidativa e acolhedora. Ela me faz sentir confortável apesar de ser triste. Não tem muito o que falar dessa melodia, na verdade, é ótima mas é algo que já foi feito antes muitas vezes… Isso não é algo necessariamente negativo mas é um sinal do que eu já falei antes, Rose está fazendo um jogo muito seguro. Na minha opinião, seguro demais. Sobre a letra… eu gostei dela de verdade, é um mapeamento social bem amplo, mas eu não acho que tenha sido a melhor opção para essa música. O que eu quero dizer é que é sempre bom fazer discussões sociais e eu gosto de como a Rose é engajada nelas mas nem sempre é a melhor opção. Essa melodia, na minha opinião, é romântica demais para ser acompanhada de uma letra política. Às vezes, a melhor opção é falar de amor mesmo.
“Miss Americana”
Eu sabia que essa hora ia chegar. Bom, essa música é a mais parecida com uma trilha sonora, na verdade foi ela que me lembrou de que eu estou escurando uma trilha sonora… O instrumental com certeza foi feito pensando exclusivamente no filme e é muito bom mas eu senti que quebrou ou pelo menos deu uma pausa no conceito. Sobre a letra… eu gostei da ideia de falar que as pessoas já deduzem que cantoras pop que não se posicionam são do lado conservador mas Rose, querida, “republicana” NÃO É O QUE VOCÊ PENSA QUE É!
“
“Demons With Angel Wings”
A melodia é bem mais pop e pesada do que as anteriores. Eu não vou mentir, eu pensei que o album estivesse tomando um rumo bom mas as duas últimas músicas me desanimaram um pouco. Mesmo que Traveling Through The Stars tenha quebrado um pouco a linearidade, tudo foi restaurado em “Distorted Reputation” mas depois de ouvir essa música, eu tenho a impressão de que o conceito sonoro foi quebrado de novo e dessa vez, permanentemente. Eu não estou dizendo que essa melodia é ruim mas eu esperava algo tão bom quanto “Alone, “Distorted Reputation” e até mesmo “The Life Of A Celebrity”. Sobre a letra, a essa altura eu posso falar que sempre gosto do tema que Rose tangencia em suas músicastangencia em suas músicas mas que nem sempre gosto do resultado. Eu não acho que a música no geral tem impacto o suficiente pra fazer as metáforas usadas nessa letra soarem rebeldes ou duronas, na verdade isso me deu mais uma impressão de lamento e conformidade do que de revolta. Ah, e mais uma coisa, o verso que cita Maria Madalena não faz sentido pra mim porque ela nunca foi símbolo de sensualidade mas sim de como o machismo justificado por cristãos é puro lixo. Maria nunca foi uma mulher de liberação sexual, ela simplesmente foi sentenciada à morte por um sistema patriarcal e arcaio.
“Crocodile Tears”
Eu até que gostei que gostei dessa melodia, é bem eletrônica mas ao mesmo tempo parece um pouco dance e retrô. Também se difere um pouco do conceito sonoro inicial do album mas a essa altura, eu já esperava isso. Quanto à letra, eu amei a ideia de falar sobre quão humilhante a sociedade faz ser o processo de denúncia de assédio ou abuso sexual. Mesmo quando a mulher é a vítima, é ela quem tem que se defender do júri que tenta a todo custo procurar brechas ou motivos pra justificar o comportamento trágico dos homens.
“Kill This Love”
Essa melodia segue a mesma linha de “Crocodile Tears” então eu não tenho muito o que comentar sobre ela… Sobre a letra, essa é a primeira vez que eu passo por essa experiência na vida mas eu estava implorando por uma música um pouco mais romântica. Se tratando de música pop, eu acho que o objetivo dela é mais retratar situações com que pessoas de vários tipos diferentes se identificam (como o amor ou a falta dele em um relacionamento) do que se aprofundar em assuntos políticos, mesmo porque artistas pop se importam também em ter um retorno da massa da população e essas duas coisas, quando ligadas, geralmente não dão certo, é preciso ter uma mente muito mais afiada para isso. E eu falo isso não só sobre a Rose mas também sobre mim, Banshee. Eu escolhi o rock principalmente porque eu amo mas uma parte de mim sabia que eu não saberia fazer música pop. Tudo que eu quero fazer é tocar em assuntos políticos sociais e eu não seria capaz de fazer isso na música pop como a Williams faz, por exemplo. Em todas as músicas anteriores, Rose tentou unir o útil ao agradável, ao mesmo tempo em que ela tentava passar uma mensagem política, ela não fazia isso com profundidade o suficiente porque também tentava compor hits e para isso, ela precisa do apoio das massas. Isso não acontece em Kill This Love, já que a mensagem política aqui é mínima o suficiente para agradar os outros e não tomar lados.
“Psycopaths”
Essa definitivamente é minha melodia preferida de todo o álbum. Nas últimas músicas anteriores, Rose transitava entre a música eletrônica moderna e o dance mas aqui ela se lançou de corpo e alma ao disco pop retrô e sinceramente, isso é bom o suficiente até para me conquistar, justo eu que não costumo gostar de pop. A crítica política na letra pareceu coerente aqui porque o disco é um bom gênero para se trazer mensagens políticas com tom de ironia ou sátira e foi exatamente isso que Rose fez, dessa vez com sucesso. Ela riu na cara do machismo e dos homens que criam essa imagem de louca de mulheres que são independentes. Esse deboche do ego masculino combinou totalmente com o instrumental e era isso que eu esperava desse álbum. Rose, por favor, faça um álbum inteiro nesse estilo, essa música de longe é a minha preferida do Black Widow.
E por último, “Black Widow”, a faixa-título.
Essa foi a melhor melodia de encerramento que esse álbum poderia ter. Ela une o disco ao conceito do filme com esse mix de pop retrô e trilha sonora épica. Eu estou realmente viciada nessas batidas e nesse instrumental que simula uma qualidade inferior de produção para se adequar à homenagem que as últimas músicas fizeram ao pop de antigamente. A letra também é uma homenagem às mulheres fortes do mundo e as referências não só ao filme “Black Widow” mas também a outros filmes de super-heróis trazem a imagem da mulher pra essa realidade fantástica. Essa música é sinônimo de feminismo divertido.
Bom, chegamos à conclusão do álbum “Black Widow” de Rose Carter e eu preciso dizer, é muito agradável quando uma artista consegue unir o aspecto dançante e divertido da música pop a ideais políticos e esse álbum foi uma evolução pra Rose nesse aspecto. Da primeira à última música, Rose foi de “eu não consigo fazer woke pop” para “eu sou especialista em fazer woke pop” e mesmo com alguns erros tão grandes quanto dizer que é a “Miss Republicana”, as últimas músicas salvaram o álbum do ridículo muito bem. Quando eu lembro de “Psychopaths” e “Black Widow”, eu simplesmente não consigo aceitar que elas estão no mesmo álbum que “Miss Americana” e “Traveling Through The Stars”. Talvez eu chamaria esse projeto de pop perfection se ele fosse um EP que contasse com “Crocodile Tears”, “Kill This Love”, “Psycopaths” e “Black Widow” mas infelizmente eu não posso ignorar as faixas anteriores. As quatro últimas músicas dariam um projeto maravilhoso, coeso em letra e melodia, divertido e liricamente interessante. “Alone” também merece algum destaque porque é emocional e trouxe vocais impecáveis mas ela tambem merecia um projeto melhor. Rose é sem sombra de dúvidas uma artista boa mas meu conselho a ela é definir com mais exatidão suas prioridades. Ela quer passar sua mensagem ou agradar a todos? Porque tentar fazer os dois ao mesmo tempo pode se tornar um paradoxo que beira o horror. Rose tem potencial para fazer um barulho monumental, uma revolução na música pop, mas ela se prende a vendas de album e charts.
Bom, esse foi o episódio 3 do Banshee Radio. Como de costume, eu vou encerrar o programa com um de meus singles que eu espero que vocês escutem bastante então essa é One More About A Whore. Escutem e ajudem essa mulher do rock. Obrigado!
[One More About A Whore toca como encerramento do programa]
Como eu já disse, eu adorei o conceito visual desse álbum, o encarte dele é um dos mais bonitos que eu já vi. Rose, amor, você fica muito bem ruiva e vestida de preto. Mas aqui, o que importa é minha opinião sobre as músicas. Então, vamos à primeira faixa do álbum.
"Alone"
Bom, a melodia com certeza foi uma opção bem segura. Quer dizer, eu não tenho nem o que falar, é uma balada de piano, não tem erro. É boa, com certeza, na verdade eu diria que é ótima. Mas não tenho certeza se é isso que eu espero do pop hoje em dia, sabe? Nós estamos em 2020, chegou a hora de correr riscos, de mostrar pra algumas pessoas que a música pop NÃO É algo a ser subestimado. Rose com certeza tem todo o necessário, ela é talentosa, criativa e tem uma voz angelical mas pelo menos nessa música eu senti que ela se conteve, ela com certeza é capaz de nos entregar mais. Sobre a letra, eu gostei bastante de como ela foi corajosa ao escrevê-la. É amedrontadora, pelo menos pra mim, a idéia de se mostrar tão vulnerável, e essa é uma característica a se admirar. E também é de se admirar quando um artista fala tão abertamente sobre a podridão da mídia, sobre como ela é irresponsável diante de pessoas públicas, afinal, nós também temos direito a privacidade e uma saúde mental a ser preservada. Espero que pelo menos alguns dos paparazzi que fizeram Rose se sentir assim tenham sido demitidos. Eu gostei de algumas metáforas como "Quando a música para de tocar" mas algumas não foram bem construídas como "Um pacto que pode levar sua alma". Se ela está falando de um pacto com o diabo, ele não pode levar sua alma, ele LEVA sua alma, isso é um fato, todo o significado de um pacto com o diabo está em ele levar sua alma. Apesar disso, a música é boa considerando que é um pop totalmente convencional. O forte dela com certeza são os vocais, Rose estava bem segura cantando eles e talvez foi até por isso que o resto da música foi construído de uma maneira minimalista, para deixar todo o foco pra toda essa potência vocal. Rose tem muito talento e muita técnica vocalmente, isso ninguém pode tirar dela.
"Travelling Through The Stars"
Não! Rose, EU NÃO ACEITO ISSO. Os primeiros vinte e quatro segundos dessa melodia parecem uma projeção do paraíso. Tão minimalista e sentimental. E aí, veio essa batida de trap e interrompeu toda a imaginação de um épico grego em que eu estava me imaginando. Se você faz uma melodia boa como essa, que consegue arrancar emoções das pessoas, você NÃO PODE colocar uma batida de trap por cima! Isso foi um desperdício deprimente de uma sequência de notas belas. Fora isso, essa batida também estragou um pouco a linearidade sonora do álbum. Quando a música começou, eu pensei "nossa, é impressionante como ela conseguiu mudar o tom do album mas sem estragar a sequência da sonoridade" e eu tinha ficado realmente feliz, mas isso foi antes de a batida de trap começar. Rose, você tem um tipo de voz e um talento específicos, desculpa se minha opinião te chatear mas eu não acho que o trap seja o melhor caminho pra você. Continue no clássico e amado pop puro, é nele que você brilha. Sobre a letra, eu amei a ideia e amei como a música fala abertamente e sem filtros sobre a dependência química. Infelizmente, algumas pessoas ainda acham que dependência química é motivo de piada ou pior, de humilhação. Muitas pessoas não acreditam que a saúde mental de uma pessoa pública pode ser machucada. Rose foi forte por superar isso e ainda mais forte por compartilhar a experiência dela, fazendo com que muitas pessoas que se sintam constrangidas entendam que ninguém está imune a isso, nem mesmo uma diva pop gigante na indústria como Rose Carter. Se você estiver escutando, saiba que eu acredito em você, Rose. Agora, sob uma visão mais técnica e menos emocional sobre a letra, eu achei a estrutura bem construída mas algumas metáforas me parecem um pouco confusas, como a primeira estrofe e o último verso da segunda estrofe, "Eu gosto do peso do ar". Talvez a música tivesse um impacto maior se ela tivesse sido um pouco mais literal, mais "na cara" ao invés de amenizar os efeitos do vício com metáforas. Eu passei por uma situação parecida escrevendo Dope mas acabei deixando ela mais literal. Por outro lado, eu canto rock e Rose canta pop então eu até entendo que o público alvo dela talvez não aceitasse a música caso ela tivesse sido escrita descartando os eufemismos.
"Distorted Reputation"
Essa melodia é muito boa! Eu acho que ela teria sido uma ótima faixa para suceder Alone. Ela tem essa sensação meio nostálgica e simples, me dá uma sensação de conforto. E o fim da música com esses melismas dela e esse instrumental que parece ter saído direto de um filme antigo! Se Travelling Through The Stars foi a que eu menos gostei, essa provavelmente vai ser minha preferida do álbum. Eu gostei bastante da ideia da letra, é sempre bom colocar a mídia no lugar dela, e também gostei de como ela usou "música" como uma metáfora para falar sobre a vida não só dela mas de toda pessoa pública. Apesar disso, eu estou começando a achar o tema das músicas meio repetitivo... Eu já entendi como as pessoas tendem a ser desumanas com a Rose enquanto pessoa pública, mas também quero saber da Rose enquanto mulher por exemplo, entendem? Até porque muitos dos problemas que mulheres passam enquanto pessoas públicas são baseados em machismo. A construção da música é interessante mas é comum o suficiente para eu pensar nela como um tendência de artistas pop e não uma característica única de Rose.
"Witches"
Eu gosto de como essa música e Distorted Reputation se relacionam mas acho que, apesar de a ordem ter ficado boa em questão de melodia, em questão de letra talvez faria mais sentido se ela tivesse vindo antes. Bom, mas agora vamos pra música isolada. Eu amei esse instrumental, apesar de ele ter um tema militar, o que muitas vezes dá uma sensação de opressão, acho que isso foi trocado por uma sensação de força feminina principalmente porque a música é interpretada por três mulheres. Eu amo que mesmo nas partes mais calmas, é possível escutar alguma coisa e isso é sinal de uma produção muito bem pensada e executada então, parabéns produtores. Sobre a letra, eu amo como cada uma delas deu o seu toque na música sem deixar seus versos desconexos. Rose fala sobre a pressão midiática sobre mulheres, Williams fala sobre o racismo estrutural e sobre os tempos de escravidão e Brie fala sobre os privilégios sociais dos homens, três assuntos difíceis de se tratar em uma só música e mesmo assim, eles se encaixaram quase perfeitamente nessa música. Eu queria destacar algumas coisas: primeiro, Rose dialoga com uma pequena garota como alegoria à nova geração feminina, as meninas do presente e mulheres do futuro e isso é muito importante! É muito importante discutir certos assuntos e ensinar meninas a não aceitar certos comportamentos masculinos. Segundo: o fim da parte de Williams, em que ela fala “os demônios têm medo da sua escuridão”. Ela ressignificou a palavra “escuridão”, geralmente usada em sentido negativo, algo que é estruturalmente racista. Ela usou como qualidade algo que geralmente é visto como defeito. Terceiro: Brie toca no assunto de padrões, além de começar o verso dela com “linda garota” e eu gostei muito disso. Todas as garotas são lindas. E por último, eu amo esse conceito de usar bruxas queimando como uma metáfora para as injustiças que as mulheres sofrem na sociedade porque elas são um dos mais antigos ícones feministas, mulheres que aumentavam a própria qualidade de vida através da ciência e eram mortas por isso. Homens que faziam o mesmo eram considerados gênios! Quem sabe o primeiro Einstein não foi uma mulher queimada na fogueira?
“The Life Of A Celebrity”
A melodia é bem convidativa e acolhedora. Ela me faz sentir confortável apesar de ser triste. Não tem muito o que falar dessa melodia, na verdade, é ótima mas é algo que já foi feito antes muitas vezes… Isso não é algo necessariamente negativo mas é um sinal do que eu já falei antes, Rose está fazendo um jogo muito seguro. Na minha opinião, seguro demais. Sobre a letra… eu gostei dela de verdade, é um mapeamento social bem amplo, mas eu não acho que tenha sido a melhor opção para essa música. O que eu quero dizer é que é sempre bom fazer discussões sociais e eu gosto de como a Rose é engajada nelas mas nem sempre é a melhor opção. Essa melodia, na minha opinião, é romântica demais para ser acompanhada de uma letra política. Às vezes, a melhor opção é falar de amor mesmo.
“Miss Americana”
Eu sabia que essa hora ia chegar. Bom, essa música é a mais parecida com uma trilha sonora, na verdade foi ela que me lembrou de que eu estou escurando uma trilha sonora… O instrumental com certeza foi feito pensando exclusivamente no filme e é muito bom mas eu senti que quebrou ou pelo menos deu uma pausa no conceito. Sobre a letra… eu gostei da ideia de falar que as pessoas já deduzem que cantoras pop que não se posicionam são do lado conservador mas Rose, querida, “republicana” NÃO É O QUE VOCÊ PENSA QUE É!
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“Demons With Angel Wings”
A melodia é bem mais pop e pesada do que as anteriores. Eu não vou mentir, eu pensei que o album estivesse tomando um rumo bom mas as duas últimas músicas me desanimaram um pouco. Mesmo que Traveling Through The Stars tenha quebrado um pouco a linearidade, tudo foi restaurado em “Distorted Reputation” mas depois de ouvir essa música, eu tenho a impressão de que o conceito sonoro foi quebrado de novo e dessa vez, permanentemente. Eu não estou dizendo que essa melodia é ruim mas eu esperava algo tão bom quanto “Alone, “Distorted Reputation” e até mesmo “The Life Of A Celebrity”. Sobre a letra, a essa altura eu posso falar que sempre gosto do tema que Rose tangencia em suas músicastangencia em suas músicas mas que nem sempre gosto do resultado. Eu não acho que a música no geral tem impacto o suficiente pra fazer as metáforas usadas nessa letra soarem rebeldes ou duronas, na verdade isso me deu mais uma impressão de lamento e conformidade do que de revolta. Ah, e mais uma coisa, o verso que cita Maria Madalena não faz sentido pra mim porque ela nunca foi símbolo de sensualidade mas sim de como o machismo justificado por cristãos é puro lixo. Maria nunca foi uma mulher de liberação sexual, ela simplesmente foi sentenciada à morte por um sistema patriarcal e arcaio.
“Crocodile Tears”
Eu até que gostei que gostei dessa melodia, é bem eletrônica mas ao mesmo tempo parece um pouco dance e retrô. Também se difere um pouco do conceito sonoro inicial do album mas a essa altura, eu já esperava isso. Quanto à letra, eu amei a ideia de falar sobre quão humilhante a sociedade faz ser o processo de denúncia de assédio ou abuso sexual. Mesmo quando a mulher é a vítima, é ela quem tem que se defender do júri que tenta a todo custo procurar brechas ou motivos pra justificar o comportamento trágico dos homens.
“Kill This Love”
Essa melodia segue a mesma linha de “Crocodile Tears” então eu não tenho muito o que comentar sobre ela… Sobre a letra, essa é a primeira vez que eu passo por essa experiência na vida mas eu estava implorando por uma música um pouco mais romântica. Se tratando de música pop, eu acho que o objetivo dela é mais retratar situações com que pessoas de vários tipos diferentes se identificam (como o amor ou a falta dele em um relacionamento) do que se aprofundar em assuntos políticos, mesmo porque artistas pop se importam também em ter um retorno da massa da população e essas duas coisas, quando ligadas, geralmente não dão certo, é preciso ter uma mente muito mais afiada para isso. E eu falo isso não só sobre a Rose mas também sobre mim, Banshee. Eu escolhi o rock principalmente porque eu amo mas uma parte de mim sabia que eu não saberia fazer música pop. Tudo que eu quero fazer é tocar em assuntos políticos sociais e eu não seria capaz de fazer isso na música pop como a Williams faz, por exemplo. Em todas as músicas anteriores, Rose tentou unir o útil ao agradável, ao mesmo tempo em que ela tentava passar uma mensagem política, ela não fazia isso com profundidade o suficiente porque também tentava compor hits e para isso, ela precisa do apoio das massas. Isso não acontece em Kill This Love, já que a mensagem política aqui é mínima o suficiente para agradar os outros e não tomar lados.
“Psycopaths”
Essa definitivamente é minha melodia preferida de todo o álbum. Nas últimas músicas anteriores, Rose transitava entre a música eletrônica moderna e o dance mas aqui ela se lançou de corpo e alma ao disco pop retrô e sinceramente, isso é bom o suficiente até para me conquistar, justo eu que não costumo gostar de pop. A crítica política na letra pareceu coerente aqui porque o disco é um bom gênero para se trazer mensagens políticas com tom de ironia ou sátira e foi exatamente isso que Rose fez, dessa vez com sucesso. Ela riu na cara do machismo e dos homens que criam essa imagem de louca de mulheres que são independentes. Esse deboche do ego masculino combinou totalmente com o instrumental e era isso que eu esperava desse álbum. Rose, por favor, faça um álbum inteiro nesse estilo, essa música de longe é a minha preferida do Black Widow.
E por último, “Black Widow”, a faixa-título.
Essa foi a melhor melodia de encerramento que esse álbum poderia ter. Ela une o disco ao conceito do filme com esse mix de pop retrô e trilha sonora épica. Eu estou realmente viciada nessas batidas e nesse instrumental que simula uma qualidade inferior de produção para se adequar à homenagem que as últimas músicas fizeram ao pop de antigamente. A letra também é uma homenagem às mulheres fortes do mundo e as referências não só ao filme “Black Widow” mas também a outros filmes de super-heróis trazem a imagem da mulher pra essa realidade fantástica. Essa música é sinônimo de feminismo divertido.
Bom, chegamos à conclusão do álbum “Black Widow” de Rose Carter e eu preciso dizer, é muito agradável quando uma artista consegue unir o aspecto dançante e divertido da música pop a ideais políticos e esse álbum foi uma evolução pra Rose nesse aspecto. Da primeira à última música, Rose foi de “eu não consigo fazer woke pop” para “eu sou especialista em fazer woke pop” e mesmo com alguns erros tão grandes quanto dizer que é a “Miss Republicana”, as últimas músicas salvaram o álbum do ridículo muito bem. Quando eu lembro de “Psychopaths” e “Black Widow”, eu simplesmente não consigo aceitar que elas estão no mesmo álbum que “Miss Americana” e “Traveling Through The Stars”. Talvez eu chamaria esse projeto de pop perfection se ele fosse um EP que contasse com “Crocodile Tears”, “Kill This Love”, “Psycopaths” e “Black Widow” mas infelizmente eu não posso ignorar as faixas anteriores. As quatro últimas músicas dariam um projeto maravilhoso, coeso em letra e melodia, divertido e liricamente interessante. “Alone” também merece algum destaque porque é emocional e trouxe vocais impecáveis mas ela tambem merecia um projeto melhor. Rose é sem sombra de dúvidas uma artista boa mas meu conselho a ela é definir com mais exatidão suas prioridades. Ela quer passar sua mensagem ou agradar a todos? Porque tentar fazer os dois ao mesmo tempo pode se tornar um paradoxo que beira o horror. Rose tem potencial para fazer um barulho monumental, uma revolução na música pop, mas ela se prende a vendas de album e charts.
Bom, esse foi o episódio 3 do Banshee Radio. Como de costume, eu vou encerrar o programa com um de meus singles que eu espero que vocês escutem bastante então essa é One More About A Whore. Escutem e ajudem essa mulher do rock. Obrigado!
[One More About A Whore toca como encerramento do programa]